A ABELHINHA E A FLOR

Certa vez, se sentindo ignorada, sem importância e inútil, uma jovem abelhinha decidiu sair voando pelo mundo até sumir na imensidão do universo, para nunca mais voltar. Pensou: na colmeia ninguém se importa comigo, não tenho importância, não vou fazer falta a ninguém.

          E assim, a abelhinha partiu rumo a um destino ignoto, incerto, deixando para trás a sua colmeia. E depois de algum tempo voando, a abelhinha chegou numa cidade provinciana e ao sobrevoar um belo jardim daquela pequena metrópole, a abelhinha atraída pela beleza de uma flor e já se sentindo bastante cansada, por já fazer algum tempo que estava voando, resolveu parar e descansar um pouco. E foi aí que ela teve uma ideia, vou pousar sobre aquela flor, me alimentar com o seu néctar, descansar um pouco e em seguida retomarei a minha viagem.

          E assim fizera a abelhinha que ao pousar sobre a flor, logo viu que dezenas de pessoas que passeavam por ali, admiravam e acariciavam com os olhos aquela linda flor.

          Ao ver aquela abelhinha pousada em suas pétalas, a bela flor exclamou: oh! Parece tão ofegante abelhinha, a quanto tempo estás voando?

- Eu nem lembro a quanto tempo estou voando sem parar! Respondeu a abelhinha assustada e impressionada com a quantidade de pessoas que admiravam e cercavam de cuidados e carinhos aquela flor.

          Como você se chama abelhinha, de onde vens e para onde vai assim tão cansada? Perguntou a flor!

- Eu me chamo Pingo de Mel e venho de muito, muito, muito longe ou seja, da Floresta das Colmeias que fica ao norte da Terra do Sol Poente! Respondeu a abelhinha com os olhinhos lacrimejados e a voz triste e ofegante.

          E você como se chama? Perguntou Pingo de Mel à flor!

- Eu me chamo Florisbela! Respondeu suavemente a bela flor enquanto as pessoas não paravam de contemplá-la e admirá-la no jardim. De repente, um garoto que passeava com os pais pelo jardim, ao ver a abelhinha sobre a flor, gritou assustado: pai, mãe, vejam, tem um bicho feio ali naquela flor! Para a abelhinha que observava e ouvia tudo em silêncio, foi impossível conter a tristeza e segurar as lágrimas...

          Oh! Por que choras Pingo de Mel? Perguntou Florisbela à abelhinha!

- Como você é bela... eu queria ser assim como você, bela, delicada, cheirosa e querida. Você faz as pessoas sorrirem e felizes, já eu, as pessoas não gostam de mim, parecem ter medo de mim e as vezes até tentam me matar. Além disso, até mesmo na minha colmeia ninguém se preocupa comigo, ninguém gosta de mim. Ó bela flor, eu sou tão infeliz por tudo isso, por ser inútil e por não conseguir fazer alguém feliz. Por isso é que resolvi ir embora, resolvi voar pelo mundo até o dia em que eu morrer, aliás, já é hora de eu partir, hora de prosseguir a minha viagem...

          Calma abelhinha, não se vá ainda, Respondeu a bela for. Amanhã acontecerá nesta cidade, a festa das flores, fique até amanhã, observe e reflita sobre tudo o que veres. E lembre-se, não há qualidade sem defeito, nem existe defeito sem qualidade, nunca somos inúteis, pois as vezes, até depois de termos nossas vidas ceifadas, de alguma forma ainda continuaremos sendo úteis a alguém. Dito isso, a abelhinha resolveu ficar.

          Na manhã do dia seguinte, bem cedo, os floricultores vieram colher flores para a festividade e colheram também a linda Florisbela.

          Triste agora também pela Florisbela, a abelhinha foi à festa e lá ela viu a Florisbela num lindo buquê que logo fora comprado por um casal que iria se casar na igrejinha do lado. E após o casamento, ao ser lançado à sorte, aquele lindo buquê fora pego por uma mulher que deu pulos de alegria e em seguida, levou para casa o buquê e pôs o mesmo num lindo jarro com água.

          Depois disso, a abelhinha resolveu continuar a sua viagem, mas ao sobrevoar a pequena cidade, viu dois homens, um aparentemente belo e elegante e o outro feio e maltrapilho, ambos se digladiando por causa de uma bela mulher que ao chegar alí, ambos,

exigiram que ela decidisse com qual dos dois ela iria ficar. E o belo pensou: é claro que é comigo por que sou bonito e elegante. O outro pensou: além de feio sou maltrapilho, quem sou eu para merecê-la? Mas aquela bela mulher, num gesto tão natural, descartou o belo e escolheu o feio. Pasma com o que viu, a abelhinha seguiu em frente e ao passar por um belo pomar, viu muitas árvores floridas e outras com frutos enquanto dezenas de pessoas crianças, jovens e adultos, felizes colhiam os frutos e agradeciam aos deuses pela fartura e às abelhas pela polinização.

          Vendo isso, a abelhinha caiu em si, e fez a seguinte reflexão: a flor é muito bela, mas muito efêmera, e mesmo assim, ela foi útil a alguém até mesmo depois de ceifada, pois ela alegrou um casamento e encheu de felicidade a mulher que pegou o buquê depois do casamento. Ninguém é feio, nem bonito, tudo depende do ponto de vista ou da maneira como uma pessoa ver a outra, a prova foi aqueles dois homens se digladiando por causa de uma mulher. Eu estava errada em pensar que sou feia e inútil, pois sem mim, sem as abelhas, não haveria polinização e sem polinização não haveria frutos e sem frutos, as pessoas não seriam tão felizes.

          E assim a abelhinha resolveu voltar pra casa, e ao chegar foi recebida com festa por toda a colmeia. E então, a abelhinha entendeu que também estava errada em achar que ela era inútil e que ninguém se preocupava com ela.

 

                                                       Citação: Lei 9.610/98.

                                                       De  fevereiro de 1998.