CONFABULANDO NA MORAL

Um bêbado foi esquecido dormindo no banheiro de um bar. Todos se foram e ele acordou alucinado. Um beribéri lhe acomete. Pele seca, fígado lubrificado e olhos amarelados.

Vê um jogo de bichos fumando maconha, bebendo e trocando cartas coloridas. Parece um zoológico. Não acredita na imagem e se belisca. Anestesia “copal”.

Aproxima-se da mesa redonda e observa a bicharada: Galo, veado, urso, jegue, cachorro e porco. Os animais discutiam quem seria o dono do bar. Resolveram apostar. Acertaram que ganharia o último a ficar de patas.

Cada um com sua bebida preferida em mãos. O galo com vinho (Gran reserva a 15° C); o veado com espumante rosé; o urso com vodka sem gelo; o jegue com cachaça; o cachorro com cerveja artesanal; e o porco com whisky (tirado de uma caixa de madeira envelhecida).

Após cada gole, roda o copo no sentido horário. Esvaziou, encheu. Até o último sobrar. Uma roleta russa a Bodega. Que comece o coma.

Conforme vai caindo um condenado, o narrador-alucinado, canta sua sentença moral.

O primeiro a abandonar a mesa foi o porco, então o bêbado disse:

- Glutão, me deixaria na lama e beberia todo o seu lucro. Seu bacon está comprometido em minha farofa.

O segundo a fugir da aposta foi o cão.

- Valentão, vira lata que late e morde acaba com tornozeleira eletrônica ou na coleira.

A terceira vítima a hibernar foi o urso.

- Tirano, enche a pança e vai dormir quando a terra está arrasada. Seu veneno está guardado.

O quarto a pedir penico foi o veado.

- Guloso, perdeu o cerrado, o toco e a vergonha. Não tome partido de ninguém.

O vice-campeão foi o jegue.

- Jumento, aqui tu não vales nada, mas na China você é remédio. Seu curtume me interessa.

O galo que não briga foi o vencedor e explicou como saiu vitorioso:

- Estou acostumado a bicar! Acordo às cinco da manhã e canto umas galinhas. Fujo das rinhas e não caio no panelaço. Dei sorte, se fosse uma suruba seria o primeiro a sair.

“Pura fraude”, canta em tom meloso um Tiê-sangue.