A BARATA

Uma mulher, recém-chegada no único hotel de uma cidade de interior, depois de passar pela a recepção, dirigiu-se para o seu quarto.

Uma barata a viu entrando no banheiro. Receosa, ficou tão encolhida que quase se camuflou com a parede branca. Aguardava uma chinelada. Porém, aquela pessoa não quis matá-la. Não se sentia no direito de tirar a vida dela. Aquela atitude não estava ao seu alcance.

Olhando aquele mimetismo, a senhora considerou que a barata houvesse morrido de medo. No dia seguinte pela manhã, a barata não estava mais ali. Estava viva.

À noite, quando foi tomar banho, depois de ter chegado do trabalho, a barata, novamente. Estava em um canto ao lado do chuveiro. Exuberante, no melhor de sua expressão. Balançava as suas antenas. O brilho das suas asas expandia-se e reluzia-se por todo aquele espaço. Olhava para a mulher com respeito e gratidão. Estava ali para cumprimentá-la como uma boa vizinha. Haviam estabelecido um acordo de convivência.

Um ser pré-histórico guarda em si a essência da origem. Sua existência, um espelho de nossos processos geomorfológicos. Gênesis de sensações e textos.