Um Idoso, Um Menino e Um Burro
Um idoso comprou um burro velho por um baixo valor para fugir de uma enchente que havia destruído uma comunidade ribeirinha.
Salvou parte de seus pertences e carregou sobre as costas do velho burro.
No caminho, encontrou um menino chorando. Ele havia perdido a casa e os pais na enchente.
Compadecido, o idoso decidiu tomar o garoto pela mão e levá-lo consigo, ainda que para entregar a algum orfanato.
O sol raiou escaldante após a chuva.
O idoso montou no burro e passou perto de uma igreja.
Na porta da igreja, um grupo de senhoras que conversavam e acharam um absurdo que o menino estivesse á pé ao lado do idoso em cima do burro.
Elas comentaram que o certo seria que o idoso deixasse o pobre menino montar no burro, pois era apenas uma criança.
O idoso, sem graça, desceu do animal e colocou o menino em cima do burro com a carga e seguiu a viagem.
As senhoras aplaudiram.
Logo passaram perto de uma fábrica.
Na porta da fábrica, os operários na troca do turno esperavam ônibus.
Ao avistarem o idoso e o burro com o menino em cima, começaram a tecer comentários, pois acharam um absurdo que o idoso estivesse á pé ao lado do menino e em cima do burro.
Eles comentaram que "o certo seria que o menino deixasse o cansado idoso montar no burro".
O idoso, sem graça, olhou pro menino e desceu ele de cima do burro. Depois montou sob o animal.
Seguiram adiante até passarem perto de um hospício.
Na porta do hospício, alguns internos tomavam sol na varanda, por trás de cercas e telas.
Ao avistarem o idoso em cima do burro caminhando ao lado do menino, começaram uma agitação.
Gritavam que "aquilo era um absurdo, pois como o idoso e o menino poderiam ser tão ruins com o burro, deixando-o carregar a carga e ainda o idoso?"
Completamente desnorteados, o idoso desceu do burro e o menino ficou olhando para ele. O idoso deu parte da carga para o menino carregar e tentou carregar a outra parte para atender ao pedido. Os internos aplaudiram o velho.
Mas o peso da carga era muito além da força do idoso. Ao tentar andar, soltou e a carga caiu no chão esparrando os pertences do idoso. Alguns internos do hospício ali riram.
Percebendo ter cometido um erro, o idoso aprumou-se e decidiu não dar ouvidos a mais ninguém.
Sacudiu a poeira da roupa, catou as cargas, colocou-as sobre o burro e decidiu seguir adiante, sem ouvir o que lhe diziam. Deixou de buscar validação pública para seus intentos.
* * *
P.S: o texto é uma fábula antiga, de autor desconheciso, que adaptei para usar neste Recanto das Letras e deixar minha lição àqueles que se importam com a opinião alheia