o gótico paladar

Fui aos subterrâneos e encontrei a ossada de meus amores, as frias e agora fétidas carnes da minha alegria.

Ali havia imensos monturos de tecidos carcomidos e amarfanhados. A julgar por sua aparência, datavam de longas eras. Não hesitei em contemplar cada canto daquele incrível lugar. Sentei-me sobre o crânio de minha felicidade, ele estava repleto de larvas, mas elas não zombavam de minhas dores.

Ao contrário, compadecidas, me aconselhavam a ter uma conduta mais rígida em relação ao mundo de hipócritas que me cercava.

Cativaram-me não por sua necrofilia, mas antes pela resiliência imensurável que imprimiam.

A escuridão logo surgia e o dia estava quase morto, bem mais do que eu, que continuava descendo, nada sabendo sobre meu destino. Sentia apenas o odor e a presença de alguma coisa realmente inexpugnável a acompanhar-me. Não sabia ao certo identificar, mas nem por isso deixaria de ignorá-lo. Eu precisava descer mais e mais...