Despede-te agora

Sei que não queres ir embora mas o trem partiu faz meia hora e logo chegará nesta estação.

Neste tempo que te sobra beija a fronte do filho que chora e agradece pelo que aprendeu.

Coloque muito do teu perfume favorito, veste aquele vestido novo que tens guardado e dança a última valsa nem que seja em pensamento.

Não precisa ter medo, nada muda por um tempo e aos poucos reconhecerás teu lugar.

Logo que passe o sono profundo encontrarás aqueles que chegaram antes e que te esperavam para o abraço do reencontro.

Apressa-te!

Já escuto o apito da nave que se aproxima!

Te preocupas as mãos vazias?

Sim, imagino pois carregaste por toda a jornada terrena as sacolas, bolsas, documentos, comida, água e os filhos pelas mãos.

Agora as tem vazias porém apressa-te a dar o último abraço nos que ficam. A hora da despedida chegou.

Entre, acomode-se.

Tranquila olha pela janela. Sim, eles todos estão a chorar pois estás partindo.

Agora tudo é calma, paz e suavidade na alma. Fica ainda a tênue lembrança de uma morada terrena que já não existe mais.

Não posso precisar o tempo que dormirás nem quando nem onde acordarás, porém é sabido que a cada intervalo há uma nova vida sendo preparada pois a nave outra vez regressará.

Há vários intervalos entre uma estação e outra. Uns descem, outros sobem. Há tantos que chegam atrasados e ficam a gritar na estação, mas nunca soube de alguém que descera na estação errada.

Ah! Há tanto para te contar, teremos tempo já que nossa viagem acaba de começar.

Vento de Outono
Enviado por Vento de Outono em 29/12/2021
Código do texto: T7417451
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