ORGULHOSAMENTE PARAUARA

Paraense é Parauara

com U, não O, escritor!

tal-qualmente manauara,

parauara, faz favor.

SerPan. Trova Papa-chibé

De uns tempos a esta parte temos visto, farto e consentido, erroneamente grafado nosso charmoso designativo gentílico parauara, alterado para paraoara. Já o constatamos em panfletos ou cartazes informativos de espetáculos, em artigos e/ou notas de jornais (inclusive lavrados por jornalistas), nomeando estilos musicais regionais (“rock” paraoara), rotulando espetáculos teatrais e até – o que se nos afigura mais deletério! – compondo título de livro.

Que nos perdoem os mais complacentes, mas não podemos – nem devemos! –, por justificado parauarismo, desconhecer a grafia exata de nosso próprio indicativo de natural deste Estado. Será que algum espírito-santense se declarará capichaba ao preencher um formulário? O natural dos pampas do Rio Grande do Sul porventura se assinalará gaúxo? Ou mesmo nossos vizinhos nascidos em Manaus asseverarão ser manaoaras? Certamente que não. Eles grafarão, respectivamente, capixaba, gaúcho e manauara. Então escrevamos também, corretamente, nosso belo e sonoroso apelativo de naturalidade: parauara.

Exemplarmente, aliás, nossos naturais de Bragança (“a pérola do Caeté”), de Abaetetuba e de Cametá acertadamente se afirmam caeteuaras, abaeteuaras e cametauaras (isto é: que provieram dos caetés, dos abaetés e dos camutás, reciprocamente). Nada de trocar o u por o.

O termo, genuinamente amazônico, provém do tupi para’wara, que vem a ser: “o que nasce das águas” (do rio-mar); ao tempo do Brasil-Colônia habitavam no Pará as tribos de aborígines, já extintas, dos Parauás e a dos Parauanas, que decerto muito terão influído para o forjamento de nosso nominativo gentílico.

A confusão originou-se, provavelmente, do vocábulo parônimo paroara, corruptela do original com que os nordestinos apodavam seus conterrâneos que vinham para a Amazônia – o Norte –, em especial para o Pará, à moda do cardeal (Paroaria coronata, P. dominicana), pássaro de arribação muito comum nos sertões daqueles estados brasileiros, servindo como agenciadores ou trabalhadores nos seringais - sendo, portanto, a nosso ver, termo tendenciosamente depreciativo-, mas que os dicionários sancionaram como sinônimos. Outra possibilidade, nada desprezível, é a contaminação ortográfica com o toponímico marajoara (os insulanos do Marajó), gerando a espúria cacografia paraoara.

Nossa cultuada e eufônica Língua Portuguesa, hoje o quinto idioma mais falado no mundo, em termos absolutos, mas o terceiro entre as chamadas línguas universais de cultura deve sua riqueza vocabular, em apreciável quantia, aos povos indígenas que aqui habitavam antes da chegada dos europeus, máxime aos tupis-guaranis, tanto quanto da gente africana que para cá foi trazida durante o iníquo período da escravidão negra, em especial nagôs ou iorubás e quimbundos, que fizeram aportar termos de grande beleza e especificidade, incorporados, definitivamente, ao léxico português. Assim, não podemos ignorá-los nem tampouco desfigurá-los, mas sim, preservá-los, perenizá-los como verdadeiro tesouro lexical do idioma camoniano, que ajudamos a formar e alçar-se ao patamar de importância que hoje ocupa.

Por essas razões, mas também com o propósito de influir no processo de fixação, por parte da população, da correta grafia do denominativo de nossa naturalidade, resolvemos nominar O Parauara, o boletim informativo e literário da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional do Pará, que editamos com periodicidade quadrimestral, fartamente distribuído na capital e alhures, e enviado para vários outros destinos do território nacional (v. Fotos no Site do Escritor - abaixo).

Portanto, com todo o respeito, parauara, sim senhor.

Sérgio Martins Pandolfo

Médico e Escritor. SOBRAMES/ABRAMES

serpan@amazon.com.br

Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 19/03/2009
Reeditado em 31/12/2009
Código do texto: T1495495
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