PARAUARA. PAROARA. PARAOARA

                Sérgio Martins Pandolfo*
“A etimologia é a certidão de nascimento da palavra”. SerPan

    Temos constatado com inquietante frequência na mídia impressa desta terra o uso indiscriminado (ou inconsequente) das expressões em epígrafe a querer expressar o gentílico natural dos nascidos em solo paraense. Tal fato confunde sobremaneira os leitores que ficam sem saber, afinal de contas, qual a forma correta de grafar esse designativo, por isso que alinhavamos os arrazoados a seguir, visando a esclarecer os desapercebidos leitores midiáticos. Vejamos.
     Parauara vem do tupi para’wara (de para=água, mar e wara=o que veio de, nascido de) que quer dizer: o que veio das águas, do mar (o rio-mar), à semelhança de manauara, cametauara e caeteuara, isto é: o que veio dos manaus , idem dos camutás, ibidem dos caetés (tribos indígenas da Amazônia). Ao tempo do Brasil-Colônia habitavam no Pará as tribos de aborígines, já extintas, dos Parauás e a dos Parauanas, que decerto muito terão influído para o forjamento de nosso nominativo gentílico. Este é, sem ponta de dúvida, o verdadeiro gentílico étnico do brioso povo paraense e que se deveria admitir, somente, até porque sonoroso e evocativo (origem indígena, autóctone; v. Fotos no Site do Escritor - abaixo).
     Paroara – Termo a nosso ver pejorativo e, inobstante os dicionários em voga sancioná-lo como sinônimo do anterior, na origem não o é, pois que advindo a partir de apodo depreciativo que os nordestinos davam aos que arribavam das terras assoladas pela seca, à semelhança das aves de arribação e, em especial, aos que vieram aos borbotões para a Amazônia (por aqui a denominação que se lhes dava era a de “arigós”) atraídos pelo incentivo promocional oferecido pelo governo, no curso da Segunda Guerra Mundial, para a extração do látex das seringueiras, em penoso esforço de guerra, bem como aos aliciadores daqueles trabalhadores para os seringais nativos, quase sempre em regime de semiescravidão, hoje conhecidos popularescamente como “gatos”. O apodo provinha da referência ao popularíssimo pássaro cardeal, ave de arribação (ordem Passeriformes) comuníssima no Nordeste pertencente ao gênero "Paroaria", de que existem diversas variedades tais qual a "P. coronata" e a "P. dominicana". Veja-se, portanto, que o depreciativo paroara está muito longe de se equivaler ao lídimo nativo parauara, devendo, portanto, ser evitado ou mesmo rechaçado.
     Paraoara – É termo espúrio, inexistente em português. Barbarismo. Solecismo. A confusão originou-se, provavelmente, do vocábulo parônimo paroara ou, então, por contaminação ortográfica com o toponímico marajoara (os insulanos do Marajó), gerando a deplorável cacografia (vôte!) paraoara.
Façamos, portanto, valer nosso genuíno sentimento de parauarismo. Nada de trocar o u pelo o. Proclamemos orgulhosamente, alto e bom som, ser parauaras.

Nota: na foto ao alto da página o exemplar nº 1 de O Parauara, boletim informativo e literário da Regional Paraense da Sobrames
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(*) Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 30/11/2009
Reeditado em 10/04/2012
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