Dicotomias Saussureanas IV
Relações Paradigmáticas X Relações Sintagmáticas
Mais uma vez, prometo [espero] ser a última, relembrando o que é dicotomia:
Dicotomia são duas partes iguais, onde uma não existe sem a outra.
É como o homem e a mulher: os dois são metades iguais na formação do bebê e um não existe sem o outro [porque são necessárias ambas as “forças” para o nascimento].
Essa sim! Essa dicotomia aí é campeã DISPARADA em confusão e desentendimento.
Ao contrário das outras, essa dicotomia é mais fácil quando as duas partes são explicadas juntas.
Primeiro: Paradigma vem do grego pradéigma, que significa "padrão" ou "exemplo".
Lindo.
Agora, peguemos o seguinte exemplo:
Temos de escrever uma carta ao presidente da república, porque ele é o único que pode dar o dinheiro que você precisa para salvar alguém [comovente, não?].
Legal. E o que a rolha tem a ver com o bueiro?
Paciência é uma virtude, nobre leitor.
Anda logo, homem!
Nossa, que pressa, rapaz. Tudo bem, para continuar, vamos picotar o exemplo. Assim:
Temos de escrever uma carta. Perfeito. Então, dispomos de TODAS as palavras presentes em nosso conhecimento: palavras bonitas, difíceis, impronunciáveis, antigas, gírias, abreviações, jargões, símbolos matemáticos e por aí vai.
Agora, melhorando as coisas, a carta é para o presidente.
Opa! Então já mudaram as coisas. Nesse caso, devemos usar a forma culta da escrita, em sinal de respeito ao governante. Então, vão-se embora os jargões, as abreviações, as gírias, os símbolos matemáticos e tudo que possa ser tido como símbolo de uma linguagem coloquial.
Depois, a carta é para o presidente, porque ele é o único que pode possui o dinheiro que você precisa para salvar alguém.
Então, você fará mais cortes, escolhendo as palavras que farão com que ele sinta piedade de sua condição e que o ajude a salvar a outra pessoa.
Veja bem: você, de TODAS as palavras que podia usar na carta, agora poderá usar apenas uma parte dela.
Em outras palavras, você PADRONIZOU seu texto.
Essa relação de ESCOLHA para PADRONIZAR sua escrita é chamada de PARADIGMÁTICA.
Já sei o que vou usar, Jowjow. Mas onde entra a relação sintagmática?
Você sabe o que vai usar, mas COMO você usará?
Sintagma provém do grego syntagma, que quer dizer “coisa posta em ordem”.
Sua vida ganhou um sentido agora, não ganhou?
A relação SINTAGMÁTICA é a relação entre as palavras que você escolheu, de modo a pô-las em ordem de tal maneira, que seu entendimento é IMEDIATO. O mestre Yoda, do Guerra nas Estrelas, é um ótimo exemplo:
“O destino desse menino é nebuloso.”
Essa frase segue o sintagma da língua portuguesa, então não sentimos dificuldade. Já o mestre Yoda, falaria:
“Nebuloso o destino desse menino é.”
Para entendê-lo, precisamos ordenar as palavras. É para isso que existe a relação SINTAGMÁTICA.
Por deixar palavras de FORA da seleção, a relação PARADIGMÁTICA também é conhecida como RELAÇÃO AUSENTE e ocupa o eixo vertical da língua, onde ocorrem as escolhas [daí eixo de seleção (ual!)].
Já a SINTAGMÁTICA, por mexer apenas com as palavras JÁ ESCOLHIDAS, é conhecida por RELAÇÃO PRESENTE, ocupando o eixo horizontal da língua, onde ocorre a organização do que foi escolhido [daí eixo da combinação (fantástico!)].
Pense assim: você entra em uma loja de brinquedos e compra um quebra-cabeça (eixo vertical). Ali estão todas as peças que você precisará para montar a imagem. O seu trabalho será arrumar todas as peças de modo que, ao terminar, a imagem seja a mesma proposta, geralmente, na caixa (eixo horizontal).
Aqui, você teve de ESCOLHER o brinquedo (relação paradigmática) e, depois, teve de colocá-lo em ordem (relação sintagmática).
Simples assim... Pelo menos espero que tenha ficado.