LIÇÕES A APRENDER DA COPA AFRICANA

Sérgio Martins Pandolfo*

Desta Copa africana em que não conseguimos – uma vez mais! – trazer o sexto caneco, ficou-nos fundamente marcado o bombardeamento midiático com mortíferos torpedos arremessados contra o nosso sofrido, açoitado idioma camoniano, que a duríssimas penas tentamos conservar e, se possível, exornar.

Limitar-nos-emos a referenciar apenas quatro impropriedades linguísticas pronunciadas a cada momento ou vistas nos jornais diariamente:

a) rúim - o campeão da copa, que a mídia falada vai aos poucos conseguindo implantar no seio da sociedade menos – digamos – escolarizada.

b) seje; esteje - cacofonias que se ouviam frequentemente, a basto emitidas por “doutos” comentaristas esportivos.

c) treno – outra cacoépia de estourar os tímpanos, a todo instante pronunciada alto e bom som por técnicos, jogadores e locutores em alusão ao ato de treinar.

c) gols – malvista cotidianamente na mídia impressa, é espúria e intolerável maneira de pluralizar o cobiçado e perseguido gol, posto que essa forma de plural inexiste em nossa língua. Não dá nem para pronunciar adequadamente, eis que nosso aparelho fonador não foi desenvolvido para tal malabarismo palrador. O plural lídimo, genuíno, correto de gol é gois, tal como o de sal é sais, de gel é géis, de barril é barris, de sol é sóis, de azul é azuis. Simples, não?

Esses agentes midiáticos são os mesmos que criticavam o presidente Lula quando falava “menas” gente (hoje um dos mais aplaudidos e corretos oradores) ou o malsucedido Dunga, às vezes em que, em escorreito “gauchês”, dizia esperar que eles (os da mídia) “venham falar com nós”. Ora, se “menas” não existe, rúim, treno, seje, esteje, gols também não (aliás, é uma luta para escrever esses estrupícios vocabulares, ufa!: o computador recusa-se e corrige; por que não aprendem?), o erro é equivalente.

Como rescaldo precioso e de pura beleza jabulani, nome da bola oficial desta Copa, que em língua zulu significa celebração, e que, temos a certeza, será mais uma bonita palavra a ser incorporada ao nosso rico e sonoro idioma. De nossa parte já vamos começar a utilizá-la.

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(*) Médico e Escritor. SOBRAMES/ABRAMES

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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 06/07/2010
Reeditado em 07/07/2010
Código do texto: T2362675
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