COMENTÁRIOS À MARGEM DE "LÍNGUA PORTUGUESA"

Olavo Bilac (1865-1918)


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
Em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


REFLEXÕES DO TITULAR DESTE ESPAÇO* - Esta é uma das mais belas, conhecidas e cultuadas poesias criadas pela genialidade do poeta (também médico) de primeira grandeza, Olavo Bilac, e uma das preferidas de nossa seleção das melhores composições poéticas nacionais. Composta em 1915, temos certeza que se a compusesse hoje, dada a importância e grandiosidade da língua portuguesa no tempo presente, puxada, é bom de ver, pelo continentalismo e superlatividade do Brasil, e o extremado patriotismo que lhe era reconhecido, Bilac certamente “atualizaria” seus versos iniciais para: “Última flor do Lácio, reculta e bela,/ És, a um tempo, esplendor e formosura”.
Na segunda estrofe – quem sabe? – diria que: “Amo-te assim, reconhecida à grâ-altura” e no primeiro terceto o verso final poderia ser este: “Amo-te, ó lhano e amoroso idioma”. Simples devaneios anódinos deste despretensioso recantista. Bilac, por óbvias razões, o faria bem melhor.

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(*) Sérgio Martins Pandolfo, Médico e Escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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www.sergiopandolfo.com

Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 15/07/2010
Reeditado em 14/07/2011
Código do texto: T2379597
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