Sobre as exceções gramaticais

Os gramáticos gostam de complicar as coisas para se darem ares de importância; contorcendo o que deveria ser reto, dificultam o que deveria ser simples, obscurecendo e prejudicando a comunicação que eles simulam auxiliar.

Os mais antigos certamente se recordam de um tempo no qual “aquêle”, era escrito assim, com acento, assim como “tôda”. De acordo com o dicionário Houaiss, o acento da primeira serviria para diferenciar a palavra de um suposto regionalismo de Minho, e Trás-os-Montes, onde usariam um tal verbo “Aquelar”: palavra-ônibus usada para suprir um verbo que, por lapso ou ignorância, não ocorre a quem fala; dentre seus muitos significados estão os de compor, fazer, preparar, perceber. Nunca me ocorreu aquelar coisa nenhuma. Já o outro acento, o mesmo Houaiss nos informa que diferenciaria a palavra de “toda”: segundo JM, f. fem. do lat. todus,i 'espécie de ave muito pequena'. Sou capaz de apostar que tais aves estão extintas desde a extinção do acento diferencial. O que chamava a atenção nesses e em outros casos, é que os sábios gramáticos optaram por acentuar as formas comuns, guardando a grafia natural para as formas raríssimas,existentes apenas em compêndios gramaticais, suponho.

Creio que com isso os gramáticos ganhavam ares de sabedoria por conhecer coisa tão difícil e rebuscada quanto a língua. Confesso que, a meus olhos, os que assim procedem assemelham-se mais a asnos na pele de leão, o que já é outra história.

Os que conhecem os rudimentos do esperanto sabem que uma gramática pode ser extremamente simples, tão fácil que crianças podem aprendê-la, o que me faz pensar no tempo que se perde nas escolas, e na tortura desnecessária decorrente da vaidade de uns tolos.

Boa parte das dificuldades gramaticais se deve às exceções impostas pelos gramáticos. De tão comuns, a população acredita ser a norma haver exceções, havendo até o ditado: toda regra tem exceção — uma tolice.

Afirmo sem pestanejar que apenas as regras ruins têm exceções. Boas regras, bem construídas, não as aceitam. A presença de exceções atesta o fato de as regras terem sido mal construídas, revelando a incompetência dos que a constroem.

As regras de acentuação da língua portuguesa poderiam ser bastante simplificadas. Também penso que a eliminação do trema significou uma falsa simplificação da língua, facilitando a escrita em detrimento da leitura das palavras.

Se, ao construirmos regras gramaticais tivermos em mente a facilitação da comunicação, precisaremos apenas de um pouco de bom senso para construir regras boas, simples e sem exceções.