FORMAÇÃO DO VOCABULÁRIO PORTUGUÊS
FORMAÇÃO DO VOCABULÁRIO PORTUGUÊS
Como qualquer língua, a nossa foi-se enriquecendo ao longo dos tempos. A sua principal fonte lexical é o Latim, mas outros vocábulos remontam a tempos anteriores a Romanização e outros provieram do contacto dos portugueses com a realidade e as gentes de outros povos, nomeadamente com a Viagem dos Descobrimentos, e com as relações que estabeleceu com as outras nações.
Neste sentido, e de forma sintética, podemos considerar a seguintes fontes:
I. Vocábulos Pré-Latinos:
a) Ibéricos. __ São poucos e de origem discutível: arroio, baía, balsa, bezerro, bizarro, cama, esquerdo, morro, sapo, sarna; e os sufixos: -arra, -erro, -orro (bocarra, naviarra...).
b) Celtas. __ A influência do povo celta manifesta-se sobretudo no campo fonético: brio, caminho, camisa, carro, dólmen, grama, légua, lousa, raio, touca, Coimbra, Bragança.
c) Fenícios e Cartagineses. __ Estes dois povos falavam a mesma língua. Deles poucos vocábulos ficaram no nosso idioma: barca, mapa, saco. Adolfo Coelho pensa que o topónimo Lisboa terá origem na língua destes dois povos.
d) Gregos. __ Com origem anterior a chegada dos Romanos, temos: academia, bolsa, cara, cola, democracia, dióspiro, étimo, governar, liceu, pedagogo; etc.
Com o advento do Cristianismo muitas outras palavras gregas foram difundidas: anjo, apóstolo, bispo, bíblia, crisma, diabo, diocese, paróquia. E é ao grego que, a partir do século XVI, os eruditos recorrem para a formação de neologismos técnicos e científicos (também chamados helenismos): anódino, fonema, homeopata, microscópio, telefone, telepatia, etc.
e) do Hebreu: aleluia, ámen, sábado; Abraão, Judite, etc.
II. Vocábulos Latinos:
1) Palavras Populares. __ As que entraram para a o romance em épocas muito remotas e foram sofrendo transformações próprias a língua popular: macula > macla > malha; etc. (Ver Palavras Convergentes e Divergentes).
2. Semi-eruditas. __ As que entraram na língua nos primórdios da época literária, acabando por sofrer leves alterações ao entrarem no circuito da linguagem comum: humanitate > humanidade; etc.
3. Eruditas. __ São as que entraram para o nosso léxico trazidas directamente do Latim Clássico, a partir do século XIV e, principalmente, no século XV, com o Renascimento: flamma > flama; auscultare > auscultar; solitariu > solitário; etc.
III. Vocábulos Pós-Latinos:
a) Germânicos: __ Geralmente referidos a arte militar, utensílios, etc: adubar, arauto, arreio, agasalho, barão, banco, bandeira, canivete, dardo, esgrima, elmo, galardão, guerra, marechal, orgulho, rico, trégua. Os quatro pontos cardeais: Norte, Sul, Este e Oeste. Alguns nomes próprios: Ataulfo, Frederico, Godofredo, Ramiro, Recaredo, Rui.
b) Árabes. __ São numerosos os vocábulos de influência árabe. Muitos reconhecem-se pelo artigo AL (cujo L é assimilado antes de R, Z, C e D): açougue, arroz, azeite, álcool, alface, alfazema, alfafa, alfinete, álgebra, algema, algodão, alqueire, café, mesquinho, refém, xarope, xadrez, zero; a interjeição oxalá; (queira Alá); o pronome fulano; etc.
c) Provençais. __ Algumas palavras deste idioma entraram no português arcaico por influência da poesia provençal (poesia trovadoresca): anel, alegre, assaz, jogral, trovador; etc.
d) Franceses. __ A língua francesa é que mais tem influído na língua portuguesa, desde o século XVII, sobretudo pela grande influência que as letras francesas exerceram sobre a cultura portuguesa. São inúmeros os francesismos (ou galicismos): abat-jour, ancestral, apartamento, assassinato, atelier, avalanche, avenida, banal, bicicleta, blague, bouquet, cabine, chance, chauffeur (chofer), comitê, detalhe, elite, envelope, feérico, felicitar, fetichismo, flanar, governante, greve, maquete, menu, nuance, omelete, reclame, restaurante, revanche, silhueta, toilette, tricot (tricô), vitrina; etc.
e) Espanhóis. __ Também é representativo o número de vocábulos espanhóis no nosso idioma: bolero, castanhola, cavalheiro, colcha, cordilheira, façanha, fandango, frente, hediondo, lhana, mantilha, neblina, novilho, pandeiro, pastilha, picaresco, realejo, rebelde,redondilha, sainete, trecho, etc.
f) Italianos. __ A maioria dos vocábulos oriundos de It´lia dizem respeito a arte (pintura, música, poesia, teatro): adágio, aguarela, ária, bandolim, camarim, cenário, concerto, dueto, maestro, madrigal, piano, serenata, solfejo, soneto, soprano, tenor, violoncelo. São também de origem italiana: alerta, arlequim, balcão, banquete, boletim , carnaval, confete, festim, fiasco, gazeta, macarrão, mortadela, palhaço, pastel, piloto, poltrona, salame, salsicha, sentinela, talharim, tômbola; etc.
g) Ingleses. __ Os anglicismos também são em número bastante elevado, graças as relações comerciais e políticas: bar, basquetebol, bife, clube, dólar, futebol, gim, grogue, iate, jóquei, júri, macadame, panfleto, piquenique, pudim, recital, repórter, revólver, sanduíche, teste, túnel, turfe, Etc.
h) De outras origens:
i) Alemão: bismuto, cobalto, gás, manganês, vagão, valsa, vermute, zinco.
ii) Russo: bolchevique, czar, czarina, escorbuto, estepe, rublo, vodca.
iii) Polonês: mazurca, polca.
iv) Turco: casaca, caviar, cossaco, gaita, horta, paxá, sandália.
v) Holandês: escuma, quermesse.
vi) Africano: banana, banjo, girafa, macaco, moleque, zebra; mandinga, macumba, muamba; cachaça, cuscuz; jiló, marimbombo; maxixe, batuque, berimbau; etc.
vii) Americano:
__ Antilhas: canoa, colibri, furacão, tabaco.
__ Chile: abacate, cacau.
__ México: tomate, batata.
__ Peru: alpaca, charque, mate, vicunha.
__ Brasil: na fauna: araponga, arara, tatu, urubu, etc; na flora: abacaxi, mandioca, sapé, etc; alimentos, utensílios, crenças, etc.: caipira, curupira, piracema, etc.; topónimos: Guanabara, Pará; etc.; antropónimos: Araci, Iracema, Jurema, Jandira, etc.
viii) Pérsia: bazar, divã, paraíso, tafetá, tulipa, turbante, anil, azul, jasmim.
ix) Malásia: bule, bambu, catre, jangada, manga, pires.
x) Japão: biombo, gueixa, leque, quimono.
xi) China: chá, chávena, ganga, tufão.
xii) Sânscrito: avatar, jambo, sândalo, suarabáctil.
De acordo com a origem das palavras, consideram-se, por um lado, as provenientes do Latim, e, por outro, as de origem diversa. Quanto as segundas, é costume agruparem-se em três categorias:
1. Palavras Hereditárias (desde as origens até ao séc. XII). __ As que existiam quando a língua começou a ganhar fisionomia própria. Isto corresponde a dizer que se trata do substrato linguístico peninsular constituído por influências dos iberos, dos celtas, dos fenícios, dos cartagineses, dos gregos, aos quais se vieram somar os germanismos e os arabismos.
2. Empréstimos (desde o séc. XI até ao séc. XVI). __ Pertencem a esta categoria os vocábulos que entraram para a língua depois de esta se encontrar formada, contribuindo para suprir as deficiências de um idioma ainda incipiente.
3. Estrangeirismos. __ São palavras de outras línguas que pasaram a fazer parte da língua portuguesa. Estes vocábulos começaram a enriquecer o nosso idioma sobretudo a partir do século XVI, ou seja, na sua fase moderna.
Fonte: web