O "SE" (parte I)

“Se”. Essa palavrinha de apenas duas letras pode, muitas vezes, ser (se não o é) o martírio de muitas pessoas que estudam a gramática de nossa língua. Concordo que são muitas as classificações - e muitas vezes são classificações ilógicas e contraditórias -, mas enquanto não mudarem as regras, é de meu dever, como professor, explicar, da forma mais simples possível, como utilizar essas formas em nossa escrita cotidiana, ou seja, na interação diária com nossa língua. Hoje, na primeira parte de nosso estudo sobre o SE, vamos analisá-lo apenas à luz da Morfologia, que é a parte da gramática que classifica todas as palavras de uma língua, dividindo-as em classes gramaticais.

1. Quando o SE é um substantivo

Aqui, o SE será substantivo toda vez que ele vier acompanhado de um determinante. Esse determinante geralmente é representado por um artigo. Observe:

Ex.: Hoje, estamos estudando o “se”.

Você pode se perguntar: o SE pode vir acompanhado por outra palavra que não seja artigo? A resposta é SIM. Mas veja: essa palavra irá sempre determiná-lo. Assumem essas formas os pronomes e, em alguns casos, os adjetivos. Veja:

Ex.: O professor disse que este “se” está mal empregado em seu texto.

2. Quando o SE é um pronome reflexivo

O SE será um pronome reflexivo em dois momentos: o primeiro quando ele vier em uma oração na voz reflexiva ou na voz reflexiva-recíproca. Esses dois tipos de orações ocorrem quando o sujeito destas orações pratica e sofre a ação do verbo ao mesmo tempo. Observe:

Ex.: Mônica cortou-se quando fazia o almoço para as crianças.

Observe que a oração acima está na voz reflexiva, pois quem praticou a ação de cortar? Quem sofreu o corte (a ação de cortar)? Obviamente, a resposta é a mesma: Mônica, que é o sujeito da oração. Quando o sujeito da oração pratica e sofre a ação verbal ao mesmo tempo, a oração está na voz reflexiva.

Ex.: Os jogadores batiam-se durante a partida do clássico carioca.

Observe que a oração acima está na voz reflexiva-recíproca, uma vez que o mesmo sujeito “os jogadores” praticam e sofrem a ação verbal de bater. Essa voz reflexiva é recíproca, porque a ação é feita uns nos outros.

3. Quando o SE é um pronome apassivador (partícula apassivadora)

O SE será um pronome apassivador quando ele vier em uma oração que está na voz passiva, ou seja, quando o sujeito sofre a ação verbal. Observe:

Ex.: Construíram-se mais edifícios no ano passado.

Em primeiro lugar, qual é o sujeito dessa oração? Para quem não sabe lá se vai uma dica: para se saber qual é o sujeito de uma oração, basta fazer “uma pergunta” ao verbo. No caso acima, a pergunta seria: “O que foram construídos no ano passado?” Já sabem a resposta? Bem, essa resposta é o sujeito. Em segundo lugar, veja que esse sujeito está sofrendo a ação do verbo “construir”. Obviamente, edifícios não se constroem sozinhos, mas sim homens que os constroem. Os edifícios sofrem a ação de serem construídos. Ora, o sujeito sofre a ação, a oração está na voz passiva.

4. Quando o SE é uma conjunção subordinativa integrante ou condicional

Em primeiro lugar, o SE será conjunção quando ele ligar duas orações, formando com elas um período. Veja:

Ex.: Pergunte ao seu irmão se ele vai para a festa.

Veja: a primeira oração seria “pergunte ao seu irmão” e a segunda “ele vai para a festa”. Ora, para unir essas duas orações em um único período utilizamos das conjunções e o SE coube aí direitinho. Esta é a função da conjunção.

Bem, voltando à classificação, o SE, para funcionar como conjunção, ele deve estar ligando orações subordinadas, ou seja, orações que dependem de outra oração para terem sentido completo ou que completam o sentido de outra oração. Além disso, essas orações subordinadas devem, ainda, ser de dois tipos: orações subordinadas substantivas e orações subordinadas adverbiais condicionais. Hã!? Agora complicou tudo, não é?

Calma lá. Vamos por partes. Uma oração subordinada é classificada como substantiva quando ela tiver valor de substantivo e uma oração subordinada é classificada como adverbial condicional quando ela exprimir ideia de condição para que um fato ocorra. Em tudo isso, a partícula SE pode estar presente. Veja nos exemplos:

Ex.: Nós ignorávamos se ele havia realizado a atividade.

Temos aí, caro leitor, duas orações: “nós ignorávamos” e “ele havia realizado a atividade”, sendo esta última a oração subordinada, pois completa o sentido da primeira. Bem, entre elas duas, vemos a presença do SE, que apenas está estabelecendo uma ligação, transformando essas orações em um período. O SE, neste caso, classifica-se como conjunção subordinativa integrante, pois une uma oração a uma oração subordinada substantiva.

Ex.: Não será um bom médico se Eduardo não estudar.

Mais um período, leitor. A primeira oração “não será um bom médico” está, pela conjunção SE, sendo completa pela oração subordinada “Eduardo não estudar”. O SE está sendo o elo entre essas duas orações. Além disso, perceba que com a sua utilização o período ganha um significado, apresentando uma ideia de condição. Veja: qual a condição para que Eduardo se torne um bom médico? Por isso que o SE é classificado, neste caso, como uma conjunção subordinativa condicional.

5. Quando o SE é uma parte integrante do verbo

O SE será uma partícula integrante do verbo quando esses próprios verbos exprimirem sentimentos, mudanças de estado, movimento etc., como queixar-se, arrepender-se, converter-se, conhecidos como verbos essencialmente pronominais.

Ex.: Mônica queixava-se dia e noite de dores de cabeça.

6. Quando o SE é uma partícula expletiva ou de realce

Ocorre quando o SE se liga a verbos intransitivos (que não pedem complementos) para realçar o sujeito. Esse SE pode ser retirado da frase sem prejuízo algum para o entendimento da oração.

Ex.: As moças sorriam-se, felizes da vida.

Veja que o SE apenas realça o sujeito “as moças”, podendo ser retirado da oração sem nenhum prejuízo à significação.

Bem, por hoje é só. Vimos acima as classificações morfológicas que a partícula SE pode adquirir em determinados contextos. No nosso próximo encontro, estudaremos a segunda e última parte dessa fantástica partícula, à luz da Sintaxe. Certamente, puderam ver que apenas uma palavrinha de duas letras gera toda uma discussão como expus acima. Assim é a Língua Portuguesa: Fantástica e Deliciosa! Não perca a nossa próxima interação. Até mais!

Rafael Füller
Enviado por Rafael Füller em 25/08/2011
Código do texto: T3181685
Classificação de conteúdo: seguro