O FILTRO INGLÊS


          Uma norma seguida em todos os países é pronunciar as palavras estrangeiras de acordo com a fonologia e a ortografia de sua própria língua. Do contrário, teríamos de aprender os fonemas de todos os idiomas (e alguns são dificílimos).
         Os falantes da língua inglesa dizem Pelei para o nosso Pelé, pois em inglês o e acentuado graficamente é pronunciado ei, como nas palavras, de origem francesa, fiancée [fiancêi] e fête [feit]. Os franceses dizem Ronaldô, pois em francês todas as palavras são oxítonas.
         No Brasil, ao contrário, procura-se pronunciar as palavras de acordo com as regras da língua original. Ninguém diz xakespeári para Shakespeare, por exemplo.
         Até aí, tudo bem.
         É até louvável.
         O grande problema, porém, é que, desconhecedor dos demais idiomas, o brasileiro acha que tudo deve ser pronunciado à inglesa. É o FILTRO INGLÊS, que afasta os nomes estrangeiros tanto da pronúncia original quanto da facilidade de pronunciá-los à portuguesa (o que seria corretíssimo).
         Dias atrás, num programa na televisão sobre a Holanda, o nome mais famoso desse país, Anne Frank, filtrado, saiu como Êin Frenk, com o r retroflexo, como fazem os ingleses. Ora, os holandeses falam holandês, evidentemente. Tivesse o locutor seguido a regra básica de pronunciar como se fosse português, teria chegado bem próximo da pronúncia original.
         Outra palavra muito comum, que sempre pronunciam errado na televisão é o substantivo Bunker. Dizem bânker. Bunker é palavra alemã e deve ser pronunciado como se escreve: búnker. O mesmo se diga de Humbold, o famoso explorador. Dizem Hâmbold.
         Não escapa ao filtro inglês nem o famoso ponto turístico de Paris. Pronunciado em português, teríamos Eifél, o que estaria correto. A torre Eiffel, que os franceses dizem [efél], no entanto, virou, nos noticiários, Êifel, com acento na primeira sílaba. Ridículo.
         Fruto do colonialismo cultural que assola este país há décadas, o filtro inglês é marca da ignorância infelizmente incentivada pelos meios de comunicação. No andar da carruagem, qualquer dia começaremos a ouvir Fáiat  (Fiat) e nosso fusca vai virar fiusca. Lamentável.