Desejo discutir o assunto seguindo duas etapas:

Na primeira etapa, destacarei a recomendação gramatical sobre o assunto.
Na segunda etapa, pretendo comentar algo referente ao tema a partir da etapa anterior.

1- Antes de verificar o que os atuais gramáticos falam sobre o assunto, devo ressaltar que, nos anos oitenta, consultando a gramática de Cegalla, eu verificava o uso da palavra presidenta.

Isso eu já lia na década de oitenta, porém, caso desejemos algo mais recente, sugiro consultar Houaiss, que lançou o seu maravilhoso dicionário em 2001.

Ele diz a mesma coisa que Cegalla sempre expressou.

Tal informação permite saber que a palavra presidenta sempre existiu.

É comum alguém falar que presidenta não existe.
Isso não é verdade.

Recomendam tais gramáticas que podemos dizer:

A presidente, pois a palavra é um um substantivo comum de dois gêneros.
Mas podemos também dizer tranquilamente a presidenta.

2- Queremos, nessa segunda etapa, esclarecer o que causou, lá no fundo, essa pequena polêmica.

Para isso, vamos relembrar uma regra gramatical às vezes bem incoerente.

Nesse instante, sendo lido por uma médica, uma enfermeira, uma psicóloga e um taxista, obedecendo às orientações gramaticais, eu poderia falar:

Nesse instante, o taxista, a médica, a enfermeira e a psicóloga que estão lendo este artigo demonstram que são sabidos.

A presença do taxista anula a maioria feminina, impedindo que eu diga que tais pessoas são sabidas.

Há alguma lógica nisso?
É justo?

Eu garanto apenas que assim dita a regra.

3- Para entender bem o assunto, devemos recordar que, ainda nos dias atuais, as mulheres buscam ter um espaço igualitário no meio social.

Os homens ainda impõem a força física que lhes é incontestável, no entanto, apesar de, não poucas vezes, o sexo masculino errar e mostrar incompetência na condução de muitas coisas, ele sempre tentou impor um domínio sobre as mulheres.

Isso ocorre demais nos ditos tempos modernos.

Recuando até o início de tudo, inclusive das gramáticas, perceberemos que eles, os homens, elaboraram as regras gramaticais segundo uma ótica masculina já que foram os homens quem ditaram tais regras.

Dessa forma, meus caros, quando criaram a regra citada para concordar palavras de gênero diferente, dá para entender a razão de prevalecer o gênero masculino.

Da mesma forma, jamais imaginaram que uma mulher seria mais do que a esposa do presidente.

Em 1829, data da publicação de nossa primeira gramática, quem imaginaria que um dia uma mulher alcançaria tal posto?

Sempre existiram as rainhas, porém presidentas seria, na época, um sonho de amantes da ficção.

Com certeza tal possibilidade não era imaginada por ninguém.

4- Mas os tempos mudaram.

Hoje as mulheres ocupam posições jamais sonhadas no passado.

Atualmente, por exemplo, nosso país possui uma presidenta.

Pensando assim, o assunto muda o foco, perde o caráter polêmico e passa a ter uma compreensão fácil.

Por que não adaptar as novas gramáticas e os novos dicionários aos avanços da modernidade?

Caso não queiram provocar muitas mudanças a fim de não complicar, basta mudar a definição do vocábulo presidenta.

A palavra passaria a ser oficialmente a chefe do Poder Executivo, ou seja, Dilma Rousseff seria, segundo o guia maior do nosso idioma, a nossa querida presidenta.

Nada de a presidente!
Nada de substantivo comum de dois gêneros!

Diriam as gramáticas oficialmente o seguinte:

A líder do Poder Executivo é a presidenta.
O líder do Poder Executivo é o presidente.

5- Eu falei numa mudança oficial, pois, na prática, ela já aconteceu.

Quem ousaria conversar com Dilma a tratando como presidente?

Ela não quer, faz questão de ser denominada presidenta, possui condições de solicitar isso e está totalmente certa na sua vontade.

Considerando o dinamismo que rege qualquer língua, devemos avançar quando os fatos, a época e o bom senso assim exigirem.

Nesse caso, além dos fatores citados, ela própria, a presidenta, exige também que estejamos bem atualizados.

Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 17/06/2012
Reeditado em 20/06/2012
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