GOIS CONTRA NOSSA “INCULTA E BELA”
              Sérgio Martins Pandolfo*                                                              
 
      Na coluna passada (O Liberal, 20/09/12) tecemos considerações, deixando clara nossa reprovação e estranheza, pelo nome que nos foi imposto pela Fifa - Brazuca - para a bola que vai rolar na Copa 2014, no Rio. Agora, mais uma injunção intolerável da todo-poderosa Fifa em relação à escolha, pelo povão “patropiano”, do nome da mascote da Copa, já definida, o tatu-bola, fixando três opções que seriam hilárias, não fossem ordinárias, que o povo não aprova nem aplaude, como se constata pela leitura do tópico da coluna de Ancelmo Gois (O Liberal, 24/09): “Uma turma do Rio não se conforma com as opções que a Fifa ofereceu para o nome da  mascote da Copa de 2014 (Amijubi, Zuzeco e Fuleco). Criou um movimento (...) sugerindo que o bichano se chame... Tatu-bola”. Sinceramente não conseguimos entender como nossas autoridades constituídas permitem tais intromissões.
     São cada vez mais frequentes os insultos que se assacam contra o lhano e ledo idioma pátrio, a começar pelo novel “presidenta”, que esperamos se cinja aos quatro anos de mando de D. Dilma. No futebol então são muitos, sendo um dos mais repulsivos no falar do Brasil esta excrescência: gols, havida como plural de gol. E o que é pior: sancionada (com ressalvas, embora) pelos principais léxicos e, pasme-se, pelo VOLP. O Aurélio desapontadoramente adverte: “É incoerente o plural gols para uma palavra aportuguesada. Contudo, parece difícil que se venha a fugir desse barbarismo, tão arraigado está”. No Houaiss verificamos: “pl.: gols (barbarismo consagrado pelo uso), goles \ô\, golos \ô\ e gois”. O VOLP tão somente faz o assento: gols.
     A forma plural regular de gol, aportuguesada por homofonia do termo inglês goal, admite três possibilidades: gois, que nos parece mais consentânea por seguir a forma geral de pluralização para o caso, com a substituição do l por is, como em sal/sais; gel/géis; funil/is; sol/sóis; azul/azuis; golos, usada em Portugal (e em regiões do Rio Grande do Sul) para o singular golo e goles, que corresponderia ao singular gole, não utilizada por aqui e sim nos países de expressão castelhana.
     Barbarismos e neologismos não deveriam ser sancionados pelos dicionaristas, ao arrepio das regras e normas estabelecidas pela gramática, o que, desafortunadamente, se verifica a trecheio. A gramática é o sustentáculo da língua, a garantia de sua continuidade. Apontar-se-iam as sugestões, proposições, verificações e uso popular de novos termos e emprego destes e, aquando das revisões periódicas efetuadas entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa, responsáveis pela normatização e uniformização do idioma, far-se-iam as alterações e os ajustes que passariam a vigorar oficialmente. 
     Não comungamos do desânimo de Mestre Aurélio. Bastaria por evocar o ocorrido nos outros termos corriqueiramente usados no futebol – os mais vividos lembram-se bem –, em que os lances, as infrações, as posições dos jogadores e até as marcações do campo eram expressos em inglês e hoje tudo isso foi devidamente remarcado para o bom e prestante português. Só ainda não conseguimos expurgar este aberrante plural de gol, que segundo os padrões gramaticais é gois, mas relutantemente persistem grafando “gols”; mas chegaremos lá!  E nem seria tão difícil assim. Bastaria com que o Governo fizesse valer o direito que lhe foi outorgado pelo povo de resguardar o idioma pátrio, exigindo que os órgãos de comunicação de que dispõe (jornais, rádios, TVs) – e são muitos! – observassem, rigorosamente, a chamada norma culta da língua, as normativas estabelecidas. Em pouco tempo cessariam as aberrações que vemos hoje na mídia. A lusa língua é tão somente bela; incultos são os (des)governantes que a não respeitam.
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(*) Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 28/09/2012
Reeditado em 17/10/2012
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