* Numa cidade pequena de um país distante contam que certa vez existiu um mistério que reuniu duas personalidades da ficção: o bandido Charada e o detetive inglês Sherlock Holmes.
 
Charada realizou um roubo fantástico.
Pegou seis milhões de reais, colocou numa maleta e enterrou num local misterioso da pequena cidade citada.
 
Capturado pela polícia, o bandido, optando pelo silêncio total, foi condenado à pena de morte.
 
Antes de sua execução, porém, o inteligente vilão resolveu confessar que contou com a colaboração de alguém, um dos moradores da cidade.
Ele decidiu deixar uma charada endereçada ao notável Sherlock Holmes.
 
Convocado pela Justiça, Sherlolck Holmes compareceu e recebeu a seguinte mensagem enigmática:
 
 A   *   *   onde fica o   *   .
SA BI A
3
 
A charada parecia indecifrável, porém Sherlock Holmes prometeu, dois dias depois, apontar onde estava a maleta e revelar quem auxiliou Charada.
 
Ele conheceu quase todos os habitantes da cidade, cerca de seiscentas pessoas, e estudou todos os lugares abandonados, lojas antigas, depósitos esquecidos ou algum local onde não havia moradores.
 
Dois dias depois, no finalzinho da tarde, ele mandou escavar a área de um velho parque desativado que conservava uma roda gigante quebrada.
Logo em seguida mandou prender a única professora da cidade.
 
Ninguém compreendeu nada, mas suas determinações foram obedecidas.
 
Uma hora após o inicio das escavações, muito perto da roda gigante defeituosa, encontraram a maleta enterrada.
Na delegacia a professora confessou o crime, esclarecendo que, depois que a situação acalmasse, ela pretendia pegar a maleta e viajar ao encontro do seu parceiro, agora morto.
 
Indagaram, então, ao genial detetive como ele conseguiu solucionar o enigma.
 
Ele falou:

"_ Elementar, meus caros colegas! É tudo uma questão de Prosódia.
Charada destacou três sílabas (SA BI A) que formavam as palavras completando a frase fornecida.
Unindo simplesmente as sílabas, a frase ficaria assim:
A sabia sabia onde fica o sabia.
 
Nesse caso temos três palavras iguais, o verbo sabia. A sílaba tônica, sílaba mais forte da palavra, é bi, a penúltima sílaba.
A frase não possui qualquer sentido imaginando três verbos.
Logo eu percebi, justificando o número 3 da pista, que não são só três sílabas diferentes, mas também três palavras diversas.
Para isso ocorrer, é necessário deslocar a sílaba tônica de duas palavras, pois uma das três palavras é o verbo.
 
Ficou fácil notar que a segunda palavra é o verbo.
Também não foi difícil perceber que a primeira palavra é sábia.
Nesse caso é necessário deslocar a penúltima sílaba tônica para a posição antepenúltima, formando a palavra bia.
Restou a palavra sabiá na qual a sílaba tônica é a última.
Temos, então, uma proparoxítona (sábia), uma paroxítona (sabia) e a oxítona sabiá.
 
As três palavras são formadas pelas mesmas sílabas, contudo o acento tônico (que não deve ser confundido com o acento gráfico) delas muda...
 
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Acento tônico – Acento que indica a sílaba forte de uma palavra (Didi, tia, capital, vontade).
Acento gráfico – Acento que aparece exatamente nas sílabas tônicas quando as regras de acentuação determinam sua existência (De, lâmpada, saída, xi).
 
Percebam que a primeira lista de exemplos mostra palavras que possuem sílabas fortes ou tônicas que não contêm acento gráfico, mas, na segunda lista, as sílabas tônicas são acentuadas.
Como saber se há ou não acento gráfico?
Conferindo as nossas regras de acentuação gráfica (lâmpada é uma palavra proparoxítona, ou seja, a sílaba tônica, onde está o acento tônico, é a antepenúltima lam; diz uma famosa regra que todas as proparoxítonas são acentuadas).
 
A Prosódia é a parte da Gramática que estuda a localização ideal da sílaba tônica, evitando que cometamos as denominadas silabadas.
Exemplo:
A palavra Nobel, quando pronunciada, rima com Noel (a sílaba tônica de Nobel é bel; a sílaba tônica de Noel é el), mas encontraremos quem diga a palavra rimando com móvel (como se a sílaba tônica fosse No).
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Retornando à explicação do detetive,
 
“... Surgiu a frase: A sábia sabia onde fica o sabiá.
 
A frase é bem lógica, no entanto ela precisava indicar o local escolhido e quem colaborou com o crime, pois foi a única pista fornecida pelo sagaz bandido.
 
Visitando os possíveis locais onde a maleta estaria enterrada, certamente um local onde não reside ninguém, eu percebi que, no parque abandonado, há uma roda gigante na qual sempre pousa um sabiá.
Podemos observar o pássaro pousando e voando a cada vinte minutos.
Não foi difícil notar sua presença regular e deduzir que a maleta estava ali.
A expressão onde fica o sabiá quis sugerir que o parque foi o local escolhido.
 
Restava interpretar que a cúmplice seria uma sábia, ou seja, uma mulher muito esclarecida que sabia o local da maleta escondida.
Admito que a frase ideal seria A sábia sabe, contudo utilizar o verbo sabe não possibilitaria o jogo prosódico que Charada desejou destacar.
 
Constatando que apenas existe uma professora na cidade, ficou fácil concluir que Charada estava acusando nossa ex-estimada mestra, a sábia da cidade.
 
Após concluir minha investigação, posso afirmar que a sábia desmascarada sofrerá os efeitos do ato criminoso e a população dessa cidade lastimará demais o vazio da Educação até contratar professores honestos e honrados!”
 
* Foi desse jeito que o insuperável Sherlock Holmes elucidou mais um grande mistério.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 20/12/2012
Reeditado em 22/12/2012
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