O correto é dedetizar (e dedetização, dedetizadora, dedetizei, dedetizado) e não detetizar.
Por quê?
     Com origem na substância Dicloro Difenil Tricloretano (diclorodifeniltricloroetano), conhecida pela sigla DDT ou D.D.T., surgiram os neologismos dedetização, dedetizar, dedetizador, dedetizado, dedetizável, incorporadas ao nosso léxico conforme o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, elaborado pela Academia Brasileira de Letras.
     Originalmente, dedetizar significava...

aplicar DDT (diclorodifeniltricloroetano). Com o tempo, o conteúdo semântico foi ampliado e os novos termos passaram a representar também substâncias similares, a exemplo do que ocorre com cotonete, bombril e gilete, ainda que não  contenham diclorodifeniltricloroetano.
     Dedetizar passou então a significar "aplicar inseticida", qualquer que seja ele.
     Hoje, com a proibição do uso do diclorodifeniltricloroetano, a dedetização utiliza produtos com o mesmo objetivo, sem, no entanto, utilizar o DDT. 

 
     O DDT é o primeiro pesticida moderno e o mais conhecido dos inseticidas do grupo dos organoclorados. Sintetizado em 1874, teve suas propriedades descobertas em 1939, pelo entomologista suíço Paul Müller, o que lhe valeu o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1948, devido ao uso do DDT no combate à malária.
     Foi muito utilizado durante a Segunda Guerra Mundial para o combate ao tifo e à malária em soldados, que o usavam na pele, contra piolhos (transmissores do tifo). O produto atravessa facilmente o exoesqueleto quitinoso dos insetos, mas no uso tópico sua toxidade é relativamente baixa (é pouco absorvido pela pele). 
     A produção em grande escala iniciou-se em 1945. Em virtude do baixo custo e grande eficiência, a curto prazo foi ampla e excessivamente usado na agropecuária, no Brasil e no mundo, durante 25 a 30 anos.  
     A longo prazo, porém, produz efeitos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente, como sugeriu a bióloga norte-americana Rachel Carson em 1962, em seu livro Primavera Silenciosa (Silent Spring). O amplo uso do DDT seria a principal causa da redução populacional de diversas aves, como o falcão peregrino e a águia calva ("bald eagle"- Haliaeetus leucocephalus), animal símbolo dos EUA. Esta foi a primeira manifestação ecológica contra o uso indiscriminado do DDT. 
     Em 1º de janeiro de 1970, com fundamento em estudos ecológicos que confirmaram o impacto ambiental, a Suécia foi o primeiro país do mundo a banir o DDT e outros inseticidas organoclorados. Vários países a seguiram, mantendo-se o uso, entretanto, no controle de doenças. 
     Na agropecuária, o uso do DDT deixa resíduos tóxicos na carne e no leite de animais domésticos, o que resultou em medidas restritivas impostas por países importadores de alimentos de origem animal.
     No Brasil, em 1971, surgiram as primeiras medidas restritivas: a Portaria nº 356/71 proibiu a fabricação e a comercialização de DDT e BHC para o combate de ectoparasitas em animais domésticos, mas liberou a utilização de larvicidas e repelentes de uso tópico; a Portaria nº 357/71 proibiu o uso de inseticidas organoclorados no controle de pragas em pastagens. 
     Em 1985 foi proibida a comercialização, o uso e a distribuição de produtos organoclorados destinados à agropecuária. A utilização foi permitida, todavia, em campanhas de saúde pública no combate à malária e à leishmaniose; no uso emergencial na agricultura, a critério do Ministério da Agricultura e como formicida e cupinicida. 
     O ser humano pode ser facilmente contaminado pela inalação ou ingestão de alimentos contaminados. Os organoclorados acumulam-se na cadeia alimentar e no tecido adiposo, causando distúrbios no sistema sensorial, digestivo e respiratório, podendo causar tumores ou levar ao óbito, a depender da exposição, em apenas duas horas.
     A substância, transportada por correntes de ar e oceânicas ou retida no organismo de animais migrantes marinhos ou voadores, está presente em todos os cantos do globo, por mais remotos que sejam. Há registros de contaminação do leite animal, carne, frutas e hortaliças, inclusive processados, como é o caso de óleo de cozinha.
     A Suíça baniu o DDT a partir de 1939 e a ONU pretende erradicar o uso de doze pesticidas nocivos ao meio ambiente e à saúde: aldrin, clordano, DDT, dieldrin, dioxinas, furanos, endrin, heptacloro, hexaclorobenzeno (HCB), mirex, bifenis policlorados (PCBs) e toxafeno. 
     O DDT não deve mais ser empregado na agricultura, mas utilizado no controle da malária, de forma restrita, por países que não possuem recursos e tempo para medidas sanitárias e de tratamento satisfatórios e no interior de residências, também restritamente.
 
     Na contaminação da cadeia alimentar, se a substância elimina os vetores, causa em contrapartida a mortalidade dos predadores naturais dos agentes transmissores das doenças que se pretendeu combater.
Pergunte, comente, critique. A casa é sua e seu comentário será sempre bem-vindo.
Um abraço e um lindo final de semana!
Maria da Glória Perez Delgado Sanches