BENEDICTO MONTEIRO - O ROMANCISTA DA AMAZÔNIA

Minha singela homenagem para este imortal da literatura amazônida, que descreveu com perfeição os encantos dessa região, que pra muitos se perdeu, e por poucos fora revelada em sua verdadeira essência e beleza.

Benedicto Monteiro nasceu no dia 1°. de março de 1924, em Alenquer no Estado do Pará, era escritor, advogado e jornalista. Faleceu há poucos dias, deixando sua marca de romancista da Amazônia. Foi um dos mais importantes escritores paraenses do século 20, com mais de 20 livros publicados. Também foi membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e da Academia Paraense de Jornalismo. Sua tetralogia - Verde Vagomundo, Minossauro, A Terceira Margem e o Aquele Um, é um dos olhares mais fiéis da Amazônia.

Bené, utilizou sua vasta experiência literária, e seu sentimento pela região para desvendar e contextualizar a história do Pará, com todas as suas nuances e dimensões, resgatando valores e belezas de um povo. Narrou em seus livros os projetos que estão em disputa na amazônia, e contrapôs o papel de um governo capitalista e insensato, que acabará deixando uma Amazônia deserta e estéril, e a luta de uma Amazônia que venha a ser e existir para si mesma, e não que seja explorada e assassinada.

Em seus textos, o drama de um povo, que aprendeu a viver dessa mata, a decifrá-la, e com a colonização, é ameaçado por uma civilização predatória. Mas como só com a caboclada essa herança milenar se reproduz, e esses povos lutam e resistem até hoje contra essa invasão do homem branco, que vê na Amazônia mais uma oportunidade de gerar rios de dinheiro estrangeiro.

Deixo nas mãos de uma passagem de Darcy Ribeiro, a homenagem que minhas palavras não alcançariam.

“Nele é que mais nítida se reflete a infinidade das águas da mãe das águas do mundo. É também nele que os mil verdes rebrilham, verdejando as verdes matas deste verde-vago-mundo. É, ainda, em Bené que a claridade do céu mais lavado de chuvas, ventos e tempestades nasce de dentro d'água, toda hora, por todo lado, na linha do horizonte, para compor de vidro a cúpula do mundo.

Debaixo deste céu destampado, sobre estas infinitas águas moventes, no fundo destes vagos verdes matos, navegamos com Bené em sua canoa gita, por furos e varadouros, de ilha a ilha, de lago a lago, de várzea a várzea, de margem a margem, até a terceira margem.

Mais olhos ninguém teve do que Bené para ver e sofrer e comunicar a dor e o gozo milagroso de ser amazônida. A vil tristeza desta nossa gente despossuída de si mesma para ser engajada e gastada na produção venal do que não come do que não usa. Como, felizmente, Bené é romancista, não há nunca o risco de afundarmos para sempre na dor sem remédio do drama total. Vez por outra, ele salta, brincalhão e pândego, para os banhos de igarapé ou de águas fundas; as fodas meninas em emblemas de mulher desenhados no barro mole das barrancas; ou enlanguece de gozo amoroso no erotismo quente que resgata o amazônida cativo.”