Aos clérigos

Certa vez me perguntaram se eu me sentia atraída pelos clérigos. Afinal são homens carentes e necessitados de amor e erotismo para dar sabor a suas vidas celibatárias e, o mais das vezes, solitárias.

Ah! Sim, eu gosto dos homens e como clérigos o são também, aprecio deveras os clérigos. Mas aprecio prá valer, de forma apaixonada e diferenciada. Não por serem carentes, antes exatamente pelo oposto: eu os aprecio por serem independentes.

Aprecio os clérigos pelo diferencial em relação aos homens mudanos. Por serem cultos e terem uma boa conversa e ainda assim não ficarem esperando a oportunidade para estar a palmilhar as carnes femininas.

Hum, sim, eu os aprecio, quando viris e ainda assim afeitos à continência. Por terem tudo para a escolha consciente, já que não costumam ser arrastados por instintos inelutáveis. Aquela coisa dos homens dizerem que "precisam" de sexo mais do que as mulheres. Lugar comum, bossalidade deslavada! Eles, os clérigos, não se acomodam a dissimulações tais.

Eu os admiro: seu idealismo, sua prontidão ao sacrifício, sua racionalidade afiada em guarda contra banalidades eróticas.

Eu os aprecio sim, posto que românticos; são cavalheiros cristãos, conformados à fidelidade a uma dama eleita. Dama bem-aventurada, laureada pelos trovadores provençais. Dama dona de si, intocada e livre de invasões. Em seu nicho só penetram os cavalheiros capazes de amar a castidade, de postura condizente com a pureza.

Assim que amo os clérigos sim, eu os amo de longe, intocados, castos e maravilhosamente independentes. Quando contemplo um belo clérigo, em genuflexão agradeço a Deus por homens tais. E, para não perder a oportunidade da oração, faço uma queixa contrita. Já que Ele escolhe os melhores ... e como pelejar com Deus pelo privilégio de por um desses ser escolhida? Covardia, aí, Todo Poderoso! Com toda adoração e reverência, e sobretudo com confiança filial...

Reverencio esses homens com a contrição de uma cortesã flagelada de seus males e vícios; e espero que destes não participem e me apontem, energicamente, o caminho da libertação. Assim que gosto sim dos clérigos, amo-os com retidão e por um deles eu ingressaria num convento, se caso algum me aceitasse. Ou, quem sabe, viveria um grande amor, permeado de carícias mansas e suaves, olhares profundos e plenos em significados. Amor movido pelo sopro do Espírito.