OFERENDA ( a minha Companheira)
Ofereço-te esse meu sacrifício
É um holocausto simples e sem pompa.
Tive meu templo invadido, meu altar saqueado,
Arrombada minha arca, levaram dela todos os meus tesouros
–os mais caros, raros e ternos.
(aqueles que eu havia pretendido guardar somente para ti)
Aceita, ainda assim essa minha oferenda pobre
Tão desprovida de pompa liturgica!
Não há incenso nesse amor que te ofereço
Porque minhas aras foram tombadas, meu turíbulo está partido!
Aceita o bruxuleio dessa lâmpada decadente e esmaecida
Porque a chama da pira foi apagada e o óleo derramado.
Beba dessa taça de barro esse vinho vinagrado com fel
É tudo que sobrou da minha vindima sabotada
Sê tu, pois a pedra angular do meu equilibrio
A mais perfeita de todas as vigas do novo templo que erigirá
Dos escombros do anterior destruído.
Fazei comigo um altar de esmeraldas
Onde eu me prostarei para reverenciar
Esse teu afeto inexcedível e comedido
Que nada me pede nem me dá.
Farei do seu silêncio e do seu canto
Uma antífona para celebrá-lo!
Por acréscimo da tua bondade e do teu amor inquestionável
Eu te rogo: Salva-me!
Salva-me da vileza que afronta minha alma!
Não há culto que me salve, não há credo que me redima!
Apenas tu haverá de ajudar-me a sorver o amargo dessa taça
Nas noites de medo e frio quando o abandono gritar à minha porta
Quando uma espada de remorso encostar contra o meu peito
E em silêncio eu gritar desesperada e desesperançosamente
Por um abrigo que você dificilmente poderá me dar
E o passado retornar trazendo consigo seus espectros.
E a vida me parecer muito mais
Inútil do que vazia, a morte se insinuar risonha
E novamente eu ver abalados os alicerces
Do templo.