MEU AMIGO-IRMÃO CARLOS ALÍPIO.

Quero aqui, prestar uma singela homenagem a um amigão do peito, irmão de coração!

Carlos Alípio Ferrário Lôbo, filho do Dr. Carlito e de D. Aída Lôbo.

Carlinhos, como é popularmente conhecido, é detentor também de diversos apelidos, os quais eu não irei aqui declinar, por absoluta desnecessidade!

Conheci Carlinhos no ano de 1974, quando fui estudar no Colégio Marista de Maceió e comecei a praticar basquete sob a orientação do nosso querido prof. Ivon Cordeiro. A partir de então fizemos uma grande e duradoura amizade!

Todas as terças e quintas-feiras tínhamos treinos, e após os mesmos, eu pegava carona no carro do Carlinhos, uma Veraneio, àquela época dirigida pelo sisudo motorista que atendia pela alcunha de Secretário! O Carlinhos aprontava com o coitado do Secretário. Acho que era por isso que ele era tão carrancudo! A carona ia até a Praça Sinimbú, no centro de Maceió, onde ficava o casarão da família Ferrário Lôbo. De lá, eu pegava o ônibus Santuário/Trapiche, com destino à minha casa, que ficava no bairro Trapiche.

Às vezes eu me demorava um pouco mais na casa do Carlinhos, pois, ele tinha uma tabela de basquete fixada na parede, onde passávamos bons momentos disputando partidas de 21. No primeiro ano de Olimpíadas Champangnat (jogos internos do Colégio Marista) que disputei, fui reserva direto do Carlinhos. Lembro-me que o Rubão, à época, namorado da minha irmã Valéria, primo do Carlinhos, me disse tirando um sarro: “Você é reserva dele? Então não joga nada!”.

No ano seguinte conquistei a condição de titular da equipe ginasial, e então aprontamos misérias, eu e Carlinhos, contra os adversários! Essa dupla dinâmica foi separada no basquete das Olimpíadas quando eu entrei no 1º ano colegial, pois, o Carlinhos era um ano mais novo, e permaneceu no ginasial. Porém, continuamos juntos na Seleção do Marista e na Seleção Alagoana!

Muitos anos se passaram, muitas coisas aconteceram; Vi Carlinhos perder seus pais; Também o vi ganhar quatro lindos filhos; Mudar a cor dos cabelos que foram ficando prateados e depois completamente brancos, apesar de ainda jovem; Mas, nunca o vi mudar a personalidade!

Amigo leal, brincalhão, estrategista de primeira. Dono de uma memória invejável, guardava nomes e números de telefone de todos os amigos do basquete e do vôlei, esporte que ele também praticou e fez parte da Seleção Alagoana!

Carlinhos montava times, dava aulas, ajudava aos atletas mais pobres dando tênis, dinheiro para as passagens e lanches! Era e ainda é, um verdadeiro desportista na real acepção da palavra!

Guardou todas as camisas dos jogos que participou! Guardou todos os tênis com os quais jogou, principalmente os All Star de todas as cores, e ainda quer que seus filhos joguem com os mesmos tênis que ele jogou! Enfim, é um saudosista de carteirinha!

Depois que me formei em odontologia o Carlinhos foi o primeiro amigo a confiar a sua arcada dentária para que eu cuidasse, e ainda hoje, passados vinte e cinco anos, continua meu paciente!

São tantas histórias vividas que dariam para escrever um livro. Quando deixamos de jogar juntos no colégio, ele me homenageou com uma medalha; quando deixamos de jogar juntos nos clubes Fênix e Iate, eu o homenageei com uma placa comemorativa. É uma rasgação de seda só, mas antes de tudo, é respeito, admiração, coleguismo e afinidade que temos mutuamente!

Agora no final de 2008, Carlinhos me telefonou para participarmos da 1ª Olimpíada dos Ex-alunos Maristas. Ele estava montando um time, e como tinha dificuldade de arregimentar todos os “atletas”, iria juntar com os do time do Lombriga de Pobre, outro amigo da época (todos com mais de quarenta anos).

Tudo resolvido, inscrições feitas, deveríamos disputar com outros times formados por jogadores de trinta e seis anos em diante, já que a outra categoria era de jogadores com até trinta e cinco anos.

No dia da abertura dos jogos, numa festa muito bonita no Colégio Marista de Maceió, tivemos uma péssima notícia: teríamos que disputar com os ex-alunos mais novos, pois, poucas equipes se inscreveram!

Na manhã seguinte, estávamos todos lá relembrando os bons tempos de colégio. Abraços, fotos, brincadeiras com a “boa forma”de cada um!

Um pouco antes de começar o nosso primeiro jogo o Carlinhos veio ao meu encontro, e com os lábios trêmulos, cara de choro, falou: Leguelé...; Antes que ele continuasse eu retruquei emocionado: não chore não!; Ele continuou: Leguelé, hoje eu estou realizando um sonho de voltarmos a jogar juntos!; As palavras faltaram para ambos, então, nos abraçamos, enxugamos as lágrimas e fomos jogar!

Durante o jogo combinamos uma jogada que costumávamos fazer nos velhos tempos. Na primeira oportunidade, conseguimos realizar com maestria: ele lançou a bola do meio da quadra, e eu entrei cruzando o garrafão, na diagonal, finalizando com um gancho e fazendo a cesta. Quando voltei para a nossa defesa, o Carlinhos já estava lá, com os olhos marejados e aquela cara de choro, emocionado por termos realizado aquela jogada tantos anos depois, eu com quase 47 e ele com 45 anos!

Ainda durante o mesmo jogo, Carlinhos recebeu um passe do Bu, bateu para dentro do garrafão, fez a finta para o lado contrário tirando dois jogadores da sua marcação, e finalizou também com um gancho, convertendo a cesta. Foi uma festa! A torcida vibrou!

Para a minha felicidade, meu filho André, que assistia o jogo, conseguiu gravar em vídeo todo o lance, inclusive a sua própria vibração na hora da cesta!

Não ganhamos nenhum dos quatro jogos. Perdemos por diferença pouca. O último, por apenas 1 ponto depois de termos ganho quase todo o jogo. Faltou fôlego! Mas ganhamos o prazer do reencontro, da reafirmação da nossa amizade, tendo agora o testemunho de nossas esposas, nossos filhos, e de meu neto Diego. Isso vale muito mais que qualquer mera vitória. Isso vale por toda a vida!

Gravei a jogada num DVD e estou entregando ao Carlinhos. Vai ser uma surpresa para ele, pois, não sabe que o André conseguiu registrar com a função vídeo da câmera fotográfica!

Junto com o vídeo, estou entregando um cartão que em linhas gerais diz assim: Um irmão, a gente não escolhe; um amigo, a gente pode escolher; mas um amigo-irmão, este, Deus coloca em nossas vidas, e é por isso que eu agradeço a ele a oportunidade de ter um IRMÃO-AMIGO!

Um abraço, Carlinhos. Que Deus abençoe a você e aos seus.

Fique com o meu agradecimento, de coração, pela amizade que você tem por mim e pelos meus!