RECORTES DA VIDA
 
                                Para meu irmao Izac (in memorian)
 
 
 
A viagem é curta, às vezes, encurtada...
 
Relembro, irmão, de seus paradigmas truncados
desaforados, mas delicados na medida certa
para conquistar os seres viventes
vividos vivificados
ao redor de sua felicidade latente...
Alegria sempre. Voracidade e pressa de viver, nunca deixando prá depois
aquilo aquele aquela
viagem dos sonhos sonhados e vividos intensamente...
 
Juizes ajuizados atropelados no sinal de trânsito
com a arma na mão...
Valeu tua irreverência ao desafio,
atropelando poder e vaidade
na contramão da avenida.
Ficou, Eu, desatinado pela sua coragem e intrepidez...
 
Braços fortes pernas ágeis,
cabeça eclética de raciocínio rápido e vencedor;
delicadeza na sutileza do tratamento interpessoal.
Dócil doce intrépido amargo.
Dos doces provou todos;
das doces mulheres provou muitas.
Cara!!! Preciso de uma puta:
quero gozar o mundo na vida desse frio sul...
 
Na longacurta viagem do sul do por de sol da lagoa
das chegadas das paradas das saídas comemos
lasanha, churrasco, macarrão alhoeolio
e um bife barato que deu confusão:
Quebra-quebra cadeiras ao vento, sul, não,
policia, corre, pega, pago não!!!
Lagoa da conceição
pescaria noturna raiar do dia
a grana tá curta, calma meu irmão, enche o bolso de café e vamos andando com fé...
 
A viagem é curta, às vezes, encurtada...
 
Amigo, muitos fez
inimigos, tinha não
fala mansa talvez
prosa boa sempre à mão...
 
Lia pouco menos ainda escrevia
mas da vida muito aprendeu
e da vida muito ensinou...
Vem menino vem
toma, a comida é sua, mata a fome dura.
E pai e filhos e mães e tios e irmãos e vizinhos
todos saciados no cuidado de carentes favelados
na felicidade da amizade...
 
Ao longo da vida
viveu o trabalho e colheu frutos
viveu os filhos e colheu amor
viveu os pais e colheu afeto
viveu os irmãos e colheu alegrias
viveu os amigos e colheu simpatia
viveu o mundo e colheu vida...
 
viveu aquele instante na curva
em desespero final
pra defesa do filho indefeso
colheu a carga fatal...
 
A carga pesada derrapou na contramão
de sua frágil vida leve
num faiscar de luzes derrapantes no negro asfalto
da noite negra da sorte negra
vislumbradas num derradeiro momento de lucidez
invisível aos olhos negros da morte...
A morte apoderou-se
dos seus negros olhos de pavor
apagando-lhe os sentidos doloridos
nas ferragens retorcidas...
Seu corpo inerte observa seu lado direito
à espera do nascimento do filho amado...
Angustiante adeus...
 
A viagem é curta, às vezes, encurtada...
 
Não posso dizer adeus,
posso tão somente olhá-lo mais uma vez.
solenemente condoído moído entristecido,
histérico sentimento de dor e ódio
entrelaçados em meus passos rotineiros
e também passageiros na latrina do diário viver...
 
Insolente tristeza incontido vazio
caminha dia a dia
na vida dos inconformados pais.
Corações de sofrimentos amortecidos pelas belas recordações do amado querido perdido saudoso filho. adeusadeusadeusadeus...
Não, não podemos dizer adeus...
 
Saudoso irmão,
amado querido lembrado relembrado;
suas vestes estarão, para sempre,
penduradas na cadeira dos meus sonhos...
Um adeus nunca foi dito, um até breve
será melhor. Nossa saudade, um dia se
encontrará para regozijarmos da infinita
alegria no universo espiritual etéreo....
 
Esses recortes de sua vida
completam o rascunho de
nossas vidas angustiadas
ficadas à mercê da saudade
de sua vida interrompida...
 
Irineu Baroni
Enviado por Irineu Baroni em 05/02/2009
Reeditado em 22/05/2010
Código do texto: T1423662
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