Vida de Engenheiro Agrônomo
(Dr. Benon Barreto, o Pai da Matéria!)
 
Vai o garoto pobre à escola
Levando livro e pão numa sacola
Pensando em estudar e algum dia
Fazer o curso médio e progredir
E vendo então a vida lhe sorrir
Tentar vestibular de agronomia.
 
Faz o "cursinho" cheio de esperança
Na grande maratona ele alcança
Chegar aos degraus lá da "Rural"
Não sabe ele da carreira ingrata
Não sabe ele que ela é madrasta
Devido à concorrência desleal.
 
E se faz fera, cheio de alegria
Não sente mais aquela agonia
Pois agora é universitário.

Os mais velhos, raspam-lhe a cabeça
Dando-lhe ordens, esperam que obedeça
E faz o fera papel de otário.
 
Enfrentam professores, PHDs, doutores
Todos velhinhos, vivendo de louvores
Já esperando pela ação do progresso
Lecionando aulas decoradas
Enchendo o saco de matérias dadas
E o aluno entrando no recesso.
 
Falta aparelhagem mais evoluída
Falta instrutor conhecedor da lida
Para formarem técnicos de valor
Não é apenas terminar o curso
Não é apenas se vestir de urso
E receber o título de doutor.
 
Vem Matemática, Física, Mecânica
A Entomologia e a Botânica
Com Dárdano mostrando tudo quanto é flor
A Analítica e a Quantitativa
Matérias vagas, sem perspectivas
E o aluno vai criando horror.
 
Entra ano sai ano na rotina
Nada de novo, tudo desanima
A não ser os porres memoriais
Tomados pelo aluno lá em "João"
Para ver se esquece da lição
Dada por professores colossais.
 
E as notas conseguidas, por favor,
As cadeiras arrumadas com amor
Para haver maior facilidade
Os professores com olhares sérios
Tentando seguir sempre seus critérios
Não os deixando nunca à vontade.
 
Dia de formatura, a ilusão
Contentamento em todo coração
A missa e a bênção dos anéis
Madrinhas e padrinhos reunidos
Familiares de muito longe vindos
Estavam terminados os papéis.
 
No outro dia, a realidade
Dos tempos de aluno, a saudade
Pois agora o chamam de doutor
E se procura emprego toda hora
E a grande esperança de outrora
Começa a desvanecer e vem a dor.
 
Depois de um período de procura
Sem chance de emprego, a tortura
Preocupa por demais o aspirante
Proposta ridícula é oferecida,
Salários baixos que não dão pra vida
Vêm os choques decepcionantes.
 
Vai o agrônomo numa vida modesta
Tentando melhorar o que não presta
Na agricultura irracional
Quem nunca estudou Agronomia
Planta e colhe sempre todo dia
E todo dia aumenta o capital.
 
Lutando assim em busca da ciência
O Agrônomo mesmo com vivência
Não consegue uma vida melhorada
Quando ele cresce, o padrão aumenta
Foi "viração" é o que o povo comenta
Ou então, uma fortuna herdada.
 
E a maioria vivendo de fé
Com um carrinho ou andando a pé
Roupa roída, sapato com furo
Esperando numa frase tão prescrita
Que de tanto falar não se acredita
Agronomia é a carreira do futuro...
 
Meu amigo Benon tomei a liberdade de publicar o seu texto que reflete o mais fidedignamente possível a vida do engenheiro agrônomo. Só uma sabedoria ímpar como a sua, juntamente com a veia poética dos familiares literatos poderiam nos presentear com tão magistral realidade, que desde época bem anterior ao escrito, perdura até hoje. Infelizmente é a grande e indiscutível verdade. Sinto-me honrado em ofertar esse texto a todos os colegas de qualquer profissão, quer sejam estudantes ainda, ou não, mas você sempre terá razão e que façam uma grande reflexão quando forem escolher a profissão que vai gerir sua provisão e ter sempre muito orgulho e satisfação exercer o ofício com muita devoção, pois foi fruto de muita doação e principalmente abnegação, ideologia e fé.
Lembro de uma confidência de meu queridoAvô Julio, já do outro lado do muro: "Filho! Estuda... Para dizer aos filhos de teus filhos, geração após geração, quem era aquele que se chamava Julio Sergio".

Abraço fraterno do amigo. 
 
Julio Sergio
Recife-PE.
(05.05.09)