Minha mãe
Minha mãe era professora numa vila de roça, perdida no mapa da Bahia,um daqueles lugares que vão do  Nada Coisa Alguma.
Mocinha de classe média, que sempre morou em Salvador, meu avô jamais entendeu o porque    daquela ânsia,daquele sonho de garota,que aos dezessete anos,recém formada pela Escola Normal,resolveu ensinar no interior da Bahia,nos anos 30,quando Lampião e seu bando,infernizavam o sertão.
“É inacreditável a força que as coisas parecem ter,quando elas precisam acontecer”,canta o poeta Caetano, numa de suas músicas. O certo é que,á maneira de César,mas,de um modo contrário a ele,ela chegou,viu e venceu.Lá,ensinou com uma santa paciência garotos de seis anos de idade a idosos de setenta que nunca tinham pegado numa caneta.Seus alunos,quase todos,eram muito mais velhos do que ela.
Um dia,numa aula de Literatura(?)é,ela arranjava um jeitinho de ler e comentar os bons escritores e poetas brasileiros,naquela exígua sala de aula,com o chão de terra batida e coberta de sapé.
Depois de ler e comentar o poeta do dia-provavelmente Castro Alves ou Gonçalves Dias,que ela adorava-um aluno,chamado Firmino,vaqueiro de profissão,trinta e cinco anos de idade,quando começou a aprender o ABC ,disse que queria recitar uma trovinha.
-Pois,recite,disse minha mãe.
-Fessora,é uma trovinha besta,que fiz prá senhora.E mandou ver:
Lá vem a lua saindo
Por detrás do buriti;
Não é lua,não é nada,
São os oio de Araci.
Minha mãe chamava-se Araci. Araci de Sales Oliveira,professora durante 60 anos,pois se aposentou á força,beirando os 75 anos.Seu nome ,veio do tupi,Ara-ci”mãe do dia” ou “a cigarra” ou ainda,aurora.
Mãe dos humildes sempre foi; espírita de carteirinha,depois que se aposentou,trabalhou em obras sociais,fazendo enxovaizinhos lindos e bordados para as crianças pobres ou a campanha do cobertor para os moradores de rua,ou,ainda ,a sopa dos velhinhos,de todo sábado;seu salário era quase todo destinado a isto.
“Eu vi minha mãe rezando
Aos pés da Virgem Maria;
Era uma santa escutando,
O que outra santa dizia. (cancioneiro popular).
Quem quiser saber quantas pessoas ela ensinou a ler, quantas alminhas encaminhou na vida, a quantos doutores formados ensinou as primeiras letras,é só contar os fios dos seus cabelos brancos.
Prestando uma homenagem a ela, que,enquanto viveu foi minha força e meu norte,e,quando partiu deixou-me o legado do seu caráter e do seu amor pela verdade,homenageio também, todas as minhas muitas amigas,colegas e leitoras daqui deste Recanto,que me acolheram com tanto carinho e atenção.
“UM FELIZ DIA DAS MÃES PARA TODAS”!!!
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 09/05/2009
Código do texto: T1584125
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