Eterna Existência

Quando recebi a notícia no dia 13 de dezembro desse ano, não acreditei no que ouvia do outro lado do telefone. Salvador não precisou me dizer. A sua voz embargada já anunciava que Oswaldo se fazia vida diante de nós. Fazia não! Faz. O meu mestre merece o verbo no presente, porque ele está presente em nós.

Em cada silêncio, em cada gesto humano, em cada brisa da natureza. Essa mesma brisa que toca o meu corpo enquanto escrevo este texto. Sinto-o agora e não posso deixar de comentar todo o movimento do Universo para aquele que sabia me entender em meu amplo silêncio.

Confesso que sempre fui o mais calado e tímido do grupo. Mas não posso deixar de registrar uma homenagem àquele que poderia ter recebido muito mais da Sociedade. Oswaldo não precisa ser. Ele é.

E quem nunca se encantou com as suas palavras leves que pesavam em nossa consciência nos momentos em que menos esperávamos? O sorriso de Oswaldo ecoa mais do que os seus momentos sérios num espaço que não pertence à terra.

O meu pai espiritual. Mestre das palavras que não precisam ser boas ou más. Sei que agora a sua felicidade está em mim. Esforçarei ao máximo com todos os meus defeitos (e como são muitos) e virtudes para que consiga alcançar terça parte da longevitude e sabedoria de quem é eterno.

Por onde passou (perdoa-me o passado) deixa marcas de sua personalidade e a orientação do entendedor humano. E se escrevo isso é porque a sua força ainda persiste na brisa que me tocou mais uma vez. Impressionante como agora ela vem do chão e perpassa o meu corpo no toque que pode ser de aceitação.

É a sua voz: - Oi, mestre! Esta que persiste em todos os cantos e corre na velocidade da luz. E se hoje aprendi a caminhar com ética, moral e sabedoria é porque estou, aos poucos, ouvindo a sua voz.

O livro de Rilke é uma forma de agradecer àquele que nunca parou para questionar os jovens. Ele sabe ouvir. Sempre me incentiva para que siga com o meu sonho literário e para que dialogue com a tradição.

No entanto, peço desculpa àqueles que ainda acreditam em máximas antigas em que o jovem está perdido. Oswaldo sabe. Ele sabe dos nossos defeitos e ganha respeito de todas as idades. E isso não quer dizer que faz as nossas vontades. Muito pelo contrário. Sempre foi o primeiro a me mostrar o quanto ainda tinha que aprender, mas sempre aprendeu comigo.

As palavras aqui são poucas, embora acredite que elas servirão a um futuro de homens incrédulos e sem esperanças. O meu único desejo não atendido foi que o Oswaldo parasse de fumar. Mas, enfim, ninguém é perfeito. E outra lição de vida me foi dada antes que tentasse aprender.

Não sinto saudade dele, porque ele ainda está aqui. Ou melhor, está em todos os lugares! Afinal, energias pertencentes ao Universo não têm lugar fixo nenhum. Isso de se afirmar é coisa de espírito fraco e finito.

Com certeza, o meu mestre sempre soube disso. Farei o máximo para que a sua força persista entre nós. Ah..dessa vez, só você me entende. O seu entendimento é sensibilidade não percebida. É a natureza em um movimento nunca antes visto. Mas este texto tenta gravá-lo em um mundo do qual nunca quis pertencer. Desculpe-me se o atormento...Este é o único modo de agradecer a sua eterna existência.

Uma homenagem a um amigo que faleceu há um tempo e me incentivava a escrever.

Rômulo Souza
Enviado por Rômulo Souza em 14/05/2009
Código do texto: T1592991
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