MEU PROFESSOR CLAUDEKO (Um fio de cabelo branco no braço é somente um aceno do tempo )

Por Peterson Borges do Nascimento

Falou um colega de classe, daquele segundo ano do Ensino Médio:

— Olha, o professor tem um fio de cabelo branco no seu braço!

Era um só, grosso e petulante, a desafiar a sua juventude no reflexo do espelho. Poderia ser um fio de barba, tanto faz; o significado é o mesmo!

Fui, naquele dia, para casa e comecei a pensar na vida, o que exatamente isso significa? Cabelos brancos é para a velhice o que espinhas é para a juventude, ainda que estas com muito mais inconvenientes. As espinhas são um saco, mas anunciam uma fase cheia de vantagens: vigor, possibilidade de entrar em qualquer show e o fim dos apertões nas bochechas por tias chatas.

Um fio de cabelo branco no braço não traz benefício. É somente um aceno do tempo, um lembrete daquela “moça” ou velha de roupão preto e foice na mão, dizendo:

— Tu podes correr, mas o tempo está passando e no fim da linha eu te espero. Ouviste queridão?

Será que a partir de hoje meu professor se tornou mais velho ainda? Não. Um fio branco não faz a velhice, assim como uma andorinha não faz um verão. Mas, afinal quando você deixa de ser jovem e começa a ser velho? Depende! Uma modelo tem seu auge aos 18, 19 anos. E um escritor, quando? Aos 60, 70? Alguns segundos antes de sua morte? Se a Gisele Bündchen é a imagem da juventude, a cada dia que passa ela é menos ela. Já meu professor vai se tornando mais ele, ano após ano.

Mesmo que ele arrancasse o fio de cabelo não adiantaria, a virtude não é estética, é existencial.

Peterson Borges do Nascimento ( Aluno do 2º ano do Ensino Médio - matutino, 2009 - Colégio Estadual João Carneiro dos Santos. Senador Canedo - Goiás)

BONS ALUNOS HONRAM SEUS MESTRES - TENHO PRIVILÉGIOS MIL DE TER SIDO SEU PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA.