52 - DO CRAQUE, O CLICK...

52 – DO CRAQUE, O CLICK...

Nos campinhos do Berra Lobo ou no do fim da Rua Capitão Tomé, ou no espaço vazio entre casas. Bizigão, menino magrinho, vivia jogando bola.

Filho de Paulo Aniceto, que era motorista da Cia Vale do Rio Doce. Bem divertido o Paulo, alegre, competente. Bom jogador de sinuca nas partidas, vida, queda, sei lá mais o quê! Com Paulo era bola na caçapa e gargalhada estridente. Jogando com Orlando Maluco, Heli Caldeira (o Corujão), Jadir Silveira (Jadirão) e Nôno Delegado. Certa vez, na sinuca, (Vida era o nome do jogo), estando em vantagem, eu creio. Matava a bola do adversário e ria dizendo: - Você pingou? Já para dentro, mandava a bola pra caçapa. Foi irritando o parceiro, adversário digo, tantas vezes o rapaz pingou, acho que era esta a fala. Tantas vezes para a caçapa.

Não agüentando a amolação, perder no jogo e ainda agüentar tanta gozação foi saindo de fininho não sem antes dizer: Perco a partida, mas não quero perder o amigo! O Paulo muito sagaz de raciocínio rápido disse à queima-roupa: – Você apelou, apeloooso. Estava perto o João Cauby que não perdeu a deixa, amarrou o dito ao feito. Ainda até hoje, mais de quarenta anos se passaram, se perder no jogo da vida uma partida qualquer não perca as estribeiras, senão com certeza ouvirá. – Você apelou, apeloooso!

Mas este fato contado, do Paulo o Rei do Tigodó ele se dizia, para provocar o distinto na mesa na hora da partida, perdendo a boa, se enervando por certo perderá também o jogo.

Mas não é deste personagem que quero falar, não é do pai, sim do filho. Bizigão, como referência também o sobrinho do TILAFA.

Magrinho e espichado pela sua idade, desde cedo, driblava para lá e para cá, assim meio desconjuntado, driblava também a vida. Até seu primo, “Zé das Graças, beque durão como uma ferramenta (alavanca) que numa entrada mais viril, como o José Eustáquio (filho de Dona Corina) ou do filho do tratorista, ou do filho do Zé do Sete, o Uilo; ele driblava.

“O Zé das Graças tirava a bola da área espanando como um rôdo ou vassourão. Bola no mato, arrancando até capim colonião ou tôco de árvore até a raiz, quebrando canelas mandando o infeliz atacante direto para o estaleiro”.

Fecho aspas foi somente para explicar, situar, como se diz, contextualizar, fazer uma imagem para vocês: Paulo Adão e Kaká, mas, disto vocês conhecem bem. Do futebol de peladas, do campinho em frente da sua casa, assim também o Walter, na vida vocês driblaram muito também.

Fico imaginando, imaginando, dando tratos à bola, quase fundindo a cachola. Se no tempo nós voltássemos ainda que por meio de máquinas, gravado, fotografado (clicado por Zé Leléia) veríamos meninos com bolas de meias fazendo artes nos campinhos da vila e da vida.

Papo certo! Só vale bola no chão, rasteirinha, dribles curtos e firulas, coisa de craques tais como: Fizinho Beróla, Tantinha, Efigênio Carecão, do Sô Bernardo o filho mais velho, Dircinho de Sô Raimundo de Assis, Setembrino, o filho de Chico Rufino, Miltinho do Zé Rosa, líder da galera do campinho da Igrejinha.

Bons de bola no Campestre e Explosivo em quantidade, só comparavam com minério do Cauê, em quantidade e qualidade. Às vezes até se enganavam os olheiros os mais experientes, como o diretor do Valério muito conhecido como Expedicionário. Num engano fantástico, digno de menção e nota, como bom observador caiu do cavalo ou montou no porco engraxado. Disse para um jovem vindo não sei de onde... Ponte Nova, Monlevade, Acesita sei lá! – Menino pode desistir aqui você não prospera. A cigana te enganou, com esta bola murcha, não dá, desista! Dispensou o moleque chamando de jogador de fruta de lobo lá do lugar de onde viera. No entanto, ledo engano, erro crasso, deste jeito outro erro ainda está para acontecer. O moleque “Florzinha” “Sementinha de Bucha”, como me disse um dia o Mingueira que o moleque jogador era assim chamado.

Mais tarde, no Flamengo depois no Palmeiras: Germano. Na Itália, “Conde da Bola”, pelo excelente futebol casou-se com Condessa titulada. Enfim erros e acertos fazem parte desta vida, da outra não, se errar aqui, no outro vai pagar.

Mas voltando à vaca fria, aquele que ensejou esta crônica desde seu inicio. Bizigão faz parte deste time de craques. Muitos ainda estão por esta vida. Por aí, outros caíram no mato como bola chutada por defesa durona ou pela própria vida.

Bizigão, segunda fase. Jogador esperto, veloz, driblador nato, às vezes até a seus companheiros irritava e ao seu treinador também, não fosse o Darci o Pai da Calma. É o melhor exemplo, mas estando em condições não dava para deixá-lo de fora do time, era demais, nem trocá-lo por perna de pau qualquer.

Se gol não marcasse, em vã tentativa de detê-lo, só na falta conseguiriam pará-lo. Faltas cobradas com esmero, só adversários pagariam. Era bola na rede, vantagem consignada! Títulos com o Campestre Futebol Clube esta galera conquistou! Muitos.

Bizigão, terceira fase.

Eu o tenho visto a andar por aí, andar bem mais lento. No físico não mudou muito, continua magro, aliás, magérrimo como um cabo de vassoura ou um caniço.

É certo: o tempo é infaível para todos nós. Ele é, às vezes, cruel, dita normas, impõe respeito... isto se quiser estender a permanencia, o prazo de validade, como dizia o Evaldo, o filho da Dona Lia. Não se acanhe rapaz. Mantenha o sorriso aberto, afinal você venceu muitas partidas. Quando estava com a bola cheia, ditado da época, nos campos de Itabira ou fora daqui você me lembrava o anjo das pernas tortas, “A alegria do povo”. Portanto, sorria, sorria, a força do seu sorriso a todos nós contagia!

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CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 16/06/2009
Reeditado em 28/09/2010
Código do texto: T1652557