A morte de Maria...

Estava ela deitada no leito, quase ronronando...

Toquei em seu ombro e a acordei: dona Maria!

Abriu primeiro o olho direito, depois o outro.

- Seu dotor! Que bom que o senhor voltou!

As filhas se aproximaram, ansiosas pelas novas.

- Dona Maria, dona Maria... E a dor nas costas?

- Passou, seu dotor! A tal morfina foi supimpa!

Todos sorriram por um breve, fugaz, instante...

Após, olhei sério para ela e para as filhas:

- Confirmou, dona Maria. É um raro linfoma.

Os olhos das moças arregalaram, dona Maria riu.

- Já sabia, seu dotor... Bom que me tirou a dor.

A família se abraçava, aos prantos e barrancos.

Quimioterapia, radioterapia, hormônios...:

Rotina já conhecida por outros familiares.

O câncer já era "inimigo íntimo" de todos.

- Deixem-me dormir, disse Maria. Preciso dormir!

Morreu naquela mesma noite, aparentemente feliz.

Tivera muitos filhos e até mesmo vários netos.

Amara, fora amada, aproveitara os grãos de vida.

Não deixou nada de material, apenas o imaterial,

Imensurável e inestimável bom-senso de viver.

O que viesse no conjunto, seria grande lucro...

Adeus, querida Maria. Que Deus te receba bem...