SAL - in memoriam

O QUE EU GOSTARIA DE CONTAR NO DEPOIS

Foi uma vida inteira de luta – a luta por viver – nas muitas vezes que mergulhei no desespero. Venci em todas elas, inclusive numa luta ferrenha de nove dias. Até o dia em que tive que aceitar a impotência de superar a dor de ver morrer meu sonho maior e mais lindo. Então me entreguei. Às pessoas isso configurava covardia. Não para mim. Aceitei com humildade minha condição: a falta da antiga força, a impossibilidade de mais uma vez ressurgir das cinzas. A vida fraquejou, a memória acabou. A alma já não vivia, o corpo respirava teimosamente. Até meu cão fiel, companheiro de todos os momentos, num repente morreu, deixando-me sozinha na brutal solidão. Do momento em que o sonho morreu até hoje, foi um constante refletir sobre a vida inteira, que hoje já não era vida. Tive horas terríveis de depressão ao deparar com o negativo de mim, horas deliciosas de alegria na certeza de vitórias vividas, na dura decisão de encarar minha verdade. A direção era certa: a morte. Tinha que ser digna de uma vida inteira dedicada ao amor. E foi assim que, em longos e difíceis meses, construí minha morte e a ela me entrego, como é meu direito, cultivando-a com respeito e alegria, num clima de paz. Parto, pois, sentindo-me gloriosa!

Sal, 08/dezembro/2004

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Olympia Salete Rodrigues(12/03/1938 a 21/05/2006)