ANJOS DE AREIA
 
Ontem, dia  10 de outubro, vivi uma experiência singular. Estávamos no Porto das Dunas e rumamos até os morros de areia para apreciar o pôr-do-sol. Nosso carro atolou logo de início. Quanto mais se tentava, mais o carro afundava na areia. Foi então que veio em nossa direção um quadriciclo. Dele desceram um  rapaz com o corpo todo tatuado e uma moça que, embora bonita, tinha uma voz que não combinava com seu corpo de boneca - seria um homem? 

Nunca vi gente tão solícita, acolhedora. Desceram do quadriciclo e tentaram nos ajudar empurrando o carro. Então eles nos disseram que iriam buscar um carro com um cabo para nos tirar do sufoco.
 

Lá se foram nossos Anjos de Areia, mudando o curso da sua tarde de brincadeira nas dunas para nos socorrer. Em breve voltaram e trouxeram mais um ajudante. Outro quadriciclo se aproximou, os dois rapazes desceram do veículo e, mergulhando na areia, tentavam com as próprias mãos retirar o excesso de areia ao redor dos pneus do nosso veículo.
 

Não vimos o pôr-do-sol. Vimos o brilho intenso nos olhos daqueles que se dispõem a ajudar. Meu coração ficou aquecido com a onda de calor provocada pela solidariedade desses Anjos de Areia.
 

Eu, que até então não tinha simpatia por tatuagens, fui acolhida por um rapaz todo tatuado. Eu senti a solidariedade de uma moça com voz masculina. Que importa? Eles foram para nós O Bom Samaritano do texto bíblico. Foram mais, foram nossos Anjos de Areia. Agora, quando eu vir alguém tatuado, me lembrarei da boa ação desse menino das areias. Quando ouvir uma vez masculina em um corpo de mulher, me lembrarei da moça que abdicou de seu passeio para nos socorrer. Abaixo o preconceito que como uma gangrena corrói a alma. Parabéns, meus Anjos de Areia. 

Texto escrito em 11/10/09

Iara Mesquita