141 - UM HOMEM DE PALAVRAS...





Assim como nos melhores lugares para se morar e viver, existem pessoas que tornam imemoriais as histórias de uma cidade. Dono de uma mente privilegiadíssima o senhor Francisco de Almeida é uma dessas pessoas com quem tenho tido imenso prazer em conversar, principalmente ouvir. Quase aos noventa e cinco anos o popular Chiquinho Alfaiate é sempre um bom papo.

Impossível não observar que em poucos momentos de conversa no seu antigo local de trabalho ou mesmo na sua residência, a quantidade de amigos que passam por lá para um dedinho de prosa ou mesmo tão somente um cumprimento e é tanta que, às vezes, interrompendo um dialogo alguém diz: - Ô Chiquinho, fulano de tal mandou um grande abraço para você e afirmou que tão logo venha a Itabira, não deixará de passar para te ver.

Sempre atento ele responde calmamente qualquer interpelação. Não importando o tema da conversa e o tempo decorrido da interrupção o Sr. Chiquinho retornará ao papo sem perder o fio do assunto, seja sobre futebol ou quaisquer outros aspectos da vida da cidade. Politicamente correto sempre, o Sô Chiquinho não gosta de dedicar sua fala aos aspectos negativos que a vida nos proporciona. Gosta de enfatizar a beleza da vida e das pessoas e reforça que nesta vida ele não está como simples passageiro. É protagonista, e aí desfila como nos bons tempos de carnaval toda sua experiência ao lidar com situações onde sempre aflora a habilidade com as palavras, muitas vezes melhor que aquele que lidou somente com o entendimento técnico, resolveu questões ou querelas colocando em check a simplicidade, restando demonstrada grande sabedoria no trato com as pessoas.

Como quem vive intensamente a história de Itabira, o Mestre Alfaiate faz cena neste teatro da vida e discorre sobre aquela que um dia viu levar parentes e amigos para a outra morada com grande tranqüilidade. Nas suas palavras não deixa transparecer mágoas ou ressentimento, mas, seu olhar é momentaneamente encoberto por uma nuvem de tristeza quando fala da sua filha, logo se recompõe. Recobra a mansidão e clareza deixando de lado o sentimento que lhe embargara a voz.

Oportunamente passam um velho Professor Martins da Costa e logo após, um Médico Alvarenga ambos usando o mesmo tipo de boné. Ligeira abstração. Do médico ele faz referência quanto ao excelente jogador que na juventude ajudara ao Clube Atlético Itabirano a derrotar os times rivais da época. Do professor, reporta-se aos tempos de Ginásio Sul Americano.

Voltando ao assunto anterior, Sô Chiquinho relembra que enquanto morador da Rua Santana, pouco acima do Colégio Nossa Senhora das Dores, tivera como vizinho, o Barão de Drummond. Sabe dizer ainda de muitos outros amigos e vizinhos que ele vira nas vilas e nas encruzilhadas e saraus da vida, nas noites de lua cheia, desfilando para última morada no cemitério do Cruzeiro. Conta que, na época da gripe espanhola eram tantos os cortejos fúnebres que, os sepultamentos entravam noite adentro. Por determinação das autoridades sanitárias, aqueles que morriam da peste deveriam ser rapidamente sepultados. Dessa forma era comum aquela lúgubre procissão de velas.

Muitas histórias, muitas falas, muitos versos e muitas prosas foram contadas pelo Chiquinho. Muitas outras ainda serão narradas por jornalistas, escritores, professores e estudantes, a respeito deste homem de palavras. Muitos encontros ainda serão marcados.

Quem se dispuser a uma boa conversa com ele escapará, com certeza, de uma sessão de psicanálise e ainda se sentirá como tendo bebido na fonte de Ponce De Leon.
De minha parte, senhor Francisco de Almeida, ou melhor, Sô Chiquinho Alfaiate, muito prazer em Re-conhecê-lo.
95 anos em 09/03/2010
CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 01/03/2010
Reeditado em 10/02/2012
Código do texto: T2113192