DORA, DORALICE

DORA, DORALICE

Já vai longe o tempo em que a menina Dora corria sorrindo, pelo árido sertão de Tejuçuoca. Os pés de criança acompanhavam os caminhos dos olhos curiosos. Os cabelos cacheados em desalinho recebiam o carinho do vento seco. Momentos de alegria pura que só a inocência pode trazer. Pena, logo cedo, a ela viu sua mãezinha partir. Mas a menina veio a esse mundo com a missão de ser forte; guerreira. Dora de dura feita rocha. Uma rocha lisa, polida, por onde a água escorre livre de empecilhos. Uma rocha que se doa em beleza e fortaleza.

Assim, cresceu a menina que desafiou as dores da orfandade e abraçou as dores do amor no matrimônio. Raul foi o amor de uma vida inteira. Um amor sublimado, sentido calado, que sete filhos gerou. Doralice passou a ser D. Dora, mulher que na labuta os filhos criou. Fogão á lenha; panelas de barro; feijão debulhado; café torrado e moído na hora; paçoca pisada no pilão. Doceira de mão cheia: bolos; doce de leite; mamão com coco; pé de moleque; cocada; tijolinho de leite. Aí, Doralice virou tia Dora, merendeira amada por todos. De dia fazia de noite vendia. Não tinha cansaço, nem distancia que não conseguisse vencer. Os filhos cresceram, seus caminhos escolheram, e tia Dora virou vó Dora. Uma vovó para lá de especial, amada por todos os netos. Uma vó doce, confeitada com brigadeiro, que contava estórias; fazia pastéis; coxinhas e canudinhos, auxiliados pelos dedinhos ávidos dos netos que disputavam as bacias de guloseimas e abriam as boquinhas esperando os capitães de vó Dora. Brincadeiras no quintal; subir nas árvores; pegar bacorinhos; esperar o ano todo o barrão engordar para a festa das liguinças, dos toucinhos, mocotós, carne assada com farinha. Que alegria o natal na casa da vó Dora. Peru criado de papo cheio no quintal, para ser assado no forno da padaria do Eudes. Conversas nas calçadas onde se reuniam primos, tios e tias.

Os anos passaram, os netos casaram e vovó Dora bisa virou. Mas nada de descanso, ela com os seus bordados continuou e haja almofadas, toalhas de mesa e coração de Jesus. Hoje estamos reunidos para celebrarmos os 87 anos de vida da menina que nasceu guerreira, sem perder a ternura, Dora, Doralice.

Iakissodara Sales Capibaribe.

IAKISSODARA CAPIBARIBE
Enviado por IAKISSODARA CAPIBARIBE em 25/03/2010
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