MÃE: divindade feminina

Os gregos são conhecidos por seu legado cultural, e quando lembramos o dia das mães, é impossível não vir à memória a figura de uma deusa. Para muitos evangélicos é estranho usar esse termo DEUSA, claro, a cultura machista religiosa aqui implantada amputou o cérebro de milhões de pessoas, alguns então não têm outra maneira de enxergar por ângulos diferentes as coisas, é como se uma grande maioria só enxergasse por uma única fresta de luz a realidade que se encontra fora da “caverna”. Faço nessa reflexão uma alusão à célebre história contada no livro “Platão: Ousar a utopia”. Esse livreto é uma obra rara, hoje encontrada em sebos, mas tive o prazer de ter um desses volumes da época de faculdade. Para compreendermos certas coisas é preciso sair da “caverna”, ir profundo nas coisas, não existem mistérios nas palavras, qualquer um pode desvendá-las e assim libertar através das palavras, libertar-se dos conceitos pré-estabelecidos e dos pré-conceitos. Claro que não se usa hífen nessas palavras, mas faço questão de violar as regras da norma culta da nossa língua para forçar uma reflexão. Aliás, quando usamos o ré- fletir é para voltarmos lá atrás, nas raízes onde determinados conceitos se formaram, assim entenderemos melhor aquilo que foi imposto à nós quando fomos europeizados. Por isso, chamo a atenção e insisto, não estranhe o uso do termo DEUSA para homenagear as mães nestas simples palavras que hora teclo solitário. Eu sou mais um dos milhões que saiu de um ventre, um mundo só nosso para compartilharmos a vida em sociedade, mas que para isso teve que deixar a mãe, hoje distante. Pensar no Dia das Mães é voltar lá no ventre, naquele mundo onde inocentemente éramos alimentados sem fazer um único esforço. Parecia que uma divindade nos cercasse de tal forma, que não nos restava qualquer alternativa, senão, sentir aquele coração gigante pulsando além-cordão umbilical que nos ligava numa sincronia perfeita. Cada pulsar daquele coração refletia, ressoava e fazia agente dormir seguro. Certos de que nada de ruim iríamos nos acontecer, ficávamos ali. Quando uma ciosa extra-mundo uterino acontecia ficávamos ali sem nenhum tipo de conceito sobre Deus ou qualquer força superior que nos protegesse, a única FORÇA SUPERIOR que de fato nos protegeu, só descobrimos depois, e o nome dela é: Mãe. Um susto, talvez parecesse um terremoto para aquele pequenino ser em gestação, mas nos sentíamos seguros. Sem saber o que estava acontecendo no mundo exterior recebíamos todos os nutrientes providos por um ecossistema que começava lá fora, num mundo desconhecido de nós. Nove meses depois, alguns mais apressadinhos como eu aos sete, sentimos o ar bater em nosso rosto pela primeira vez. Pronto! Já não estamos mais tão seguros como antes, porém, aquele ser que chamo deusa-mãe nos acolheu em seus calorosos braços. Enquanto ela estivesse perto parecíamos seguros, mas sem ela nosso mundo caia em desgraça, parecia um caos, então nosso único protesto era literalmente berrar, então ela chegava de mansinho e com aquele jeitinho de mulher passava a mão na nossa cabeça. Ufa, que alívio! Era um toque mágico, capaz de curar qualquer dor. Ela conhecia o segredo da ervas, então preparava um chá para nós. Com um pouco de careta no início, mas logo nos acostumávamos. Uma mão e um corte nos separaram do ventre da madre-deusa. Logo começamos a andar, e conforme fomos crescendo, nossos passos ousaram ir mais longe que o recomendado, então Ela chorou. Noites e noites de sono perdidos, rezando para que nada de mal nos acontecesse, mesmo assim muitos de nós nos perdemos pelo caminho. A vontade é de retornar de onde nunca devíamos ter saído, essa é a sensação que se tem quando se vê longe dessa deusa-mãe. O oxigênio, os nutrientes já não chegam até nós via venal, já não podemos mais dormir ao som das batidas daquele coração, ficamos expostos. Uma coisa estranha toma conta de mim, neste momento especial enquanto escrevo, uma sensação de vazio, uma emoção inexplicável, não sei desvendar o turbilhão de sentimentos que paira sobre essa pessoinha que escreve agora, só sei que é um misto de tristeza por estar longe, distante do caminho que percorri desde o ventre até aqui. Mamãe, já não pode ver minhas lagrimar, não podes mais ouvir o meu choro, mas carrego parte da tua divindade em mim. Não é à toa que teu nome é DIVINA. Quem lhe deu esse nome? Todas mães são DIVINAS! Todas as mamães são DEUSAS, e as deusas são forças exteriores e superiores que protegem todos os filhos do mundo. Não existem mães ruins, existem filhos ruins. Claro, digo isto para todos os filhos que ainda tem as suas mamães. Não trago ouro nem prata para poder dar um presente para todas as mamães, mas trago estas palavras e as ofereço como presente.

Parabéns mamães brasileiras!