Seminarista Mario dayvit: Irmão e Amigo

Seminarista Mário Dayvit: Irmão e Amigo

Conheci Mário nos encontros de catequese e nos primeiros passos da caminhada pela pastoral vocacional junto ao seminarista Clemilton Morais (hoje padre, estudando em Roma). O jovem já se destacava entre os demais vocacionados devido sua forte experiência junto à pastoral catequética da arquidiocese. Lembro que ingressamos no Seminário Menor (seminário Cura D´ars) no mesmo dia, 09 de agosto de 2003. Éramos três vocacionados cheios de sonhos, iniciando nossa história vocacional: Mário Dayvit, Jadson Borba e eu. Encontramos lá a “negada”, isto é, os seminaristas Faustino Ayres e Jorge Pereira. Assim se formou a nossa turma. Juntos nos tornamos inesquecíveis, sui generis – um grupo de cinco amigos que levaremos para a eternidade. Dentre nós cinco, Mário era o mais tímido, no entanto era o mais responsável, conduzia sempre a turma nos momentos de crise. Lembro que nas primeiras semanas de seminário pude conhecer a grandeza de Mário por trás de sua humildade, sempre atento e eficaz naquilo que fazia, exemplo de oração e obediência à Igreja. Posso falar que entre muitas pessoas que já conheci poucas são verdadeiramente cristãs, entre estas está o irmão e amigo Mário. Pequenas lembranças me fazem pensar que seu esforço, dedicação e busca pelo sacerdócio são exemplos de grandíssimo testemunho de fé e amor à Igreja, por isso Deus permitiu que ele saísse do nosso meio tão cedo e de uma maneira dramática para que possamos repensar e refletir de que maneira estamos sendo Igreja hoje. Faltam adjetivos para qualificar a pessoa de Mário Dayvit Pinheiro Reis. Posso chamá-lo de amigo, pois esteve presente em momentos significativos e angustiantes de minha vida, como também posso chamá-lo de irmão devido à caminhada vocacional que fizemos junto a Igreja. Mário era um jovem cheio de esperanças e virtudes, mas entre suas principais virtudes estavam os dons da escuta e da oração. Quando saí do seminário em 2008 eu costumava dizer a Mário que ficaria satisfeito por saber que entre meus amigos existiria alguém que no futuro seria um padre que marcaria gerações, a exemplo do padre João Mohana e padre Jocy Rodrigues. Mário na sua humildade só respondia que queria servir a Cristo e a Igreja.

Amava a igreja do Maranhão, tinha uma espiritualidade diocesana, costumava dizer que queria trabalhar nela de forma competente e autêntica. Isso já era visível na sua prática pastoral, árdua mesmo antes de entrar no seminário. Gostava de falar da alegria de ser catequista, a exemplo de sua grande catequista e amiga Concita Gomes.

Amante da cultura maranhense, como apreciava uma boa toada de Chiador, Chagas e Humberto! Sem falar da grandiosidade do Boi Barrica e Bicho Terra. Lembro que no quarto de Mário junto aos livros ficava sua matraca. Amante das letras, tinha uma inteligência fascinante. Quem dos seminaristas da época não lembra que durante o ingresso no IESMA a redação de Mário foi a única que tirou nota dez? Sem falar na sua paixão pela matemática e física, pois antes do ingresso no seminário ele se formou em Eletrônica pelo antigo CEFET, hoje IFMA.

Além de um português fino, dominava o inglês, o italiano e principalmente o francês. Posso estar errado, mas o professor e bispo metropolitano dom José Belisário pode me corrigir: acredito que seu melhor aluno de latim se chamava Mário Dayvit. Isso era visível nas aulas. Como tenho saudade dessas aulas...

Atualmente, Mário tinha trabalho em duas pastorais da arquidiocese. Primeiro na Pastoral da Comunicação (PASCOM), da qual era integrante e responsável pelo site da Arquidiocese de São Luís. Em todas as atividades da Arquidiocese era certeza encontrar Mário Dayvit em companhia de sua máquina digital, registrando os momentos que precisavam ficar na história da Igreja local. Em segundo, na Pastoral Vocacional, onde ajudava os vocacionados no discernimento para ingresso no seminário.

Ultimamente vinha se dedicando à conclusão de sua monografia cujo tema era “Repensando a Teologia da Cruz e sua relação com a Teologia da Libertação”. A escolha do tema foi devido a forte paixão de Mário pelo Apóstolo Paulo, incentivado pelas belíssimas aulas do professor exegeta Chico Glory e disso eu sou testemunha. Mário acreditava que a teologia paulina é profundamente rica e o seu modo semântico nos estimula a compreender o significado da linguagem da cruz.

Estava de ordenação marcada para o dia 5 de fevereiro de 2011 e no segundo semestre, após a ordenação presbiteral, iria viajar para França onde faria mestrado em Exegese Bíblica no Instituto Católico de Paris. Após o mestrado, planejava ajudar na formação da Igreja particular que ele tanto amou junto às comunidades de base. Um projeto brilhante esperava por Mário, mas a cultura da violência abortou tal projeto. A gente se pergunta: porque Deus permitiu? Não nos é permitido entender Deus. Eu, na minha angústia, respondi que Deus era injusto. Mas o que aconteceu com Mário me faz compreender o tamanho do evento pascal de Cristo que passou pelo grande fracasso que se chama cruz.

Finalizo dizendo quatro coisas: primeiro, obrigado aos familiares de Mário por nos dar a oportunidade de conhecer um irmão e amigo, principalmente sua mãe que ele tanto amou. Segundo, a nossa Igreja particular que vive momentos de crise, diante de sua perda. É hora de muitos padres e seminaristas repensarem seus ministérios e vocações. Terceiro, o testemunho de Mário de fé e dedicação ao sacerdócio possa servir de exemplo aos vocacionados, leigos e futuros seminaristas que assim como Mário possam se doar pela nossa igreja particular. Por fim, sua partida é uma denúncia e alerta à sociedade que vive sob a cultura de morte que aborta o sonho de inúmeros maranhenses.

Mário Dayvit partiu para a casa do Pai no dia 4 de julho, solenidade de São Pedro e São Paulo, colunas centrais da Igreja. Nesse dia, a II leitura da liturgia da palavra, expressava as fortes palavras de São Paulo ao jovem Timóteo: “...aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé, agora está reservada para mim a coroa da justiça que o Senhor justo juiz me dará naquele dia” (2Tm 4, 6b-8a).

Marcio dos Santos Rabelo
Enviado por Marcio dos Santos Rabelo em 19/07/2010
Código do texto: T2386109
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