Para Meu Pai

Quando eu era moleque via meu pai como um homem chato que tinha o poder e me proibia de uma porção de coisas pelo mero prazer de me ver chateado. As broncas não me pareciam boas; os sermões eram bobagens; as palmadas, chineladas ou cintadas não me pareciam justas.

O tempo foi passando e na adolescência eu não conseguia aceitar mais as surras. Oras! Eu sabia andar nas ruas, sabia conversar e não precisava de ninguém, porque já era adulto. Por que ele tinha tanta preocupação? Por que tinha que me bater? Logo eu que não era mais uma criança.

Mas a minha adolescência passou e eu me tornei jovem.

Às vezes eu me lembrava das broncas, surras e sermões e já começava a dar razão para meu pai. Às vezes queria teimar comigo mesmo só para não perder meu eu. Parecia que minha parte "aborrecente" não queria me largar tão facilmente. Hoje vejo o quanto fui tolo!

Ele dizia:

- Gostaria que meus filhos ficassem numa prateleira na estante aqui à minha frente - isso quando meu irmão e eu saíamos para algum lugar - para eu ficar olhando e cuidando sempre.

Hoje eu sou homem maduro, sou pai e vejo: tudo o que ele fez foi por amor. E aquelas palavras nada mais era que um "eu te amo" nas entrelinhas de um pai que cresceu na roça, na ignorância de meu avô, homem matuto, mas que me ama incondicionalmente.

Hoje eu vejo que todas as correções foram para meu bem. E que pai não corrige o filho que ama?

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 05/08/2010
Reeditado em 05/08/2010
Código do texto: T2419974
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