O POETA MIGUEL TORGA ... 


                                  O Emigrante Silvino Dos Santos Potêncio  

Por: Silvino Potêncio ... Um Olhar do Alto da Serra de Bornes. (Uma Homenagem Póstuma pela comemoração do Centenário de Nascimento do Maior Poeta Transmontano do Século XX em Lingua Portuguesa) 
 

- Quando alguém perguntou ao Dr Adolfo Correia Rocha, o que ele achava do movimento dos militares, na manhã de 25 de Abril de 1974, ele respondeu, não como médico mas sim como o Escritor “ Miguel Torga”! O Maior Poeta Transmontano do Século XX em Lingua Portuguesa.  

- O 25 de Abril, a par do sentido de libertação traz-me algumas desilusões, as perseguições, a procura de lugares. A política é para eles (os políticos) uma promoção e, para mim, uma aflição.

E é, com esta ironia e esta descrença previlegiada que ele relatava conversas que os políticos tiveram com ele, na vã tentativa de arregimentar um peso-pesado da Literatura Lusitana  para as suas hostes, independentemente da sua convergência ou divergência pessoal no plano partidário ideológico daquele tempo.

Sabemos que ele presidiu a primeira reunião da Região Centro do Partido "Xuxialista" em Coimbra, nos primórdios de tais acontecimentos à luz do dia, tão diferentes de alguns anos antes, onde o “home” ia preso apenas por pensar em liberdade, contudo ele declarou, logo na sua intervenção inicial, aquilo que era o seu estado de Alma perene,  ao se referir a todas as coisas pátrias:

< ... não sou afiliado ao partido e presido esta reunião como cidadão socialista que sempre fui...>. Ou seja: entende-se que não é o hábito que faz o monge, e sim as acções dos homens que os perenizam para a eternidade. Torga ainda viveu mais 21 anos para ver o sol nascer com cores do arco íris, saindo por detrás das serranias Transmontanas,  em vez do vermelho escarlatino de um pôr de sol,  exageradamente voltado aos interesses do poder e da glória não unipessoal jamais merecidas pelos “xuxialistas “ que aí estão desde então.

Mais adiante podemos ler o que escreveram os seus biógrafos e historiadores, de uma forma parcialmente premonitória,  haja visto a grande aversão que Miguel Torga tinha pelas luzes da ribalta. 

Por acréscimo digo eu hoje; A genialidade é inimiga directa da publicidade, e prima carnal da vaidade esvoaçante do ser humano que não pensa! Aquele  que apenas vive exdruxulamente  ao sabor da corrente que o leva em direcção ao nada!... Este nada é a campa rasa do leito onde todos se irão amortalhar um dia. E sabemos todos,  mais tarde ou mais cedo, todos lá iremos partir em direção a novas dimensões, novas atitudes e modos de estar no mundo vivente “in memorium”!

Eu penso que quando a estrela brilha do mais profundo do seu epicentro, nada impede que essa luz ofusque as demais, que giram à sua volta...Luzes da Ribalta são tal e qual as bestiais mariposas,  em volta de uma flor de giesta, ou de estêvas com os seus bilros pendurados, ou até de um qualquer vistoso purpurante liláz nascido à beira de uma campa do descanso eterno no seu/nosso Maravilhoso Reyno Encantado nas terras altas que se avistam do Alto da Serra de Bornes. Terra onde um dia eu gostaria de também poder repousar... porque lá foi também a minha raiz.

 - A minha seiva criadora de palavras velhas, extenuantemente decompostas em pedaços de origem remota, telúricas relíquias recordações da Anta de Caravelas!,  mas que me servem todos os dias para escrever frases novas. 

Só quem palmilhou, descalço, cabelo ao  vento suão, escachouçou por cima de ouriços de castanheiros em manhãs de prima vera!... e à espreita do primo verão!... aquele que vem logo depois da Prima Vera, voismecês verão,  ou verão os vindouros, os  pedregulhos soltos no caminho de cabras e na imaginação de politicos que, tal qual feitos uns “jagunços” de atalaia ao alheio liberal pensamento popular e colectivo! Todos eles, políticos ou não,  lá se vão maravilhar a olhar a natureza - por fora já pobre e quase morta, na crosta das montanhas - e por dentro, nos mostra uma  rica visão em ebulição de sentimentos quentes, pessoais voluptuosos inventivos dos filhos que ali vingaram as suas raízes herdadas dos seus ancestrais.

Nada mais independentista e sonhador do que um olhar do alto da serra! Quer seja a de Bornes, a de Montesinho, a do Marão ou de Paradela... ou ainda o olhar por cima da serra da Nogueira em direção à serra Raiana Sanábria da Coroa de Castela!. --- além, lá longe são terras de Espanha!,... imaginava eu quando ali subia ainda menino. E de tão longe e tão distante, elas nunca serão iguais à minha terra, que é sempre mais bela, mais bonita e mais singela!... não há outra como ela!   - Da mesma forma que interpretei e li o "Mestre Torga" a acusar Jean-Paul Sartre de ser o grande mal dos pensadores  percussores do enviroticado sistema laptospirosiano da filosofia niilista da grande parte do século vinte, mais ainda quando... onde se sabe hoje! toda a verdade e nada mais que a verdade à luz do meio informatizado, e o recordo e eu concordo que :

Ele acusou Sartre de ter posto o preconceito acima do conceito com o fim de promover a sua imagem, sem se importar de ter eventualmente corrompido gerações inteiras. Eu acrescento que os nossos dirigentes, TODOS, independente de cor e credo, após a Abrilada, eles se regalaram a deixar para os vindouros discussões inócuas, heranças efêmeras, histórias mal contadas, feitos insignificantes sem comparativos, destituídos de conceitos logo sem qualquer tipo de pré-conceito!.

 Assim, eu diria que também nós tivemos o "Ti Bush echas" como figura emblemática do que é o assalto ao poder intelectual da cabeça do vizinho do lado!ou seja: Todos nós actuais figurantes do palco e da platéia expectorante, muito próxima de “espectorar”  na sarjeta ensinamentos de um passado já distante.   -  Não!...Não é importante só levantar a voz do meio da multidão, e gritar: eu sou bãon carago estou aqui!...

 - Importa sim,  saber que algum dia a mesma voz é levada ao alto do "poleiro", sejam as  minhas lembranças e observações da paisagem retinadas do alto da Serra de Bornes, para dizer estou vivo, este é o meu lugar. Pois sei que,  depois de mim outros virão para o conquistar pelos seus méritos próprios porque se os não tiverem, não é depois de mortos que os hão-de arranjar!  Finalizo este pequeno trecho de "conversa-fiada" porque não foi vendida, e sim de graça dada!,... com uma constatação mais que perfeita para homenagear este meu conterrâneo na data do seu aniversário de nascimento, 12 de Agosto de 1907.     -  Isto vos digo eu aqui agora: “ que cada frase feita,  em vez de um habilidoso disfarce, seja uma eterna sedução à sabedoria individual de cada um de nós! Que seja sim um acto sem subterfúgios, sem imaginativas ou inventivas condições de prazer e deleite. -  Para tanto, a minha frase, eu  limpo-a escrupulosamente de todas as impurezas e ambiguidades. Isto porque,  como ele diria: “Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós”...

Autor: Silvino Dos Santos Potêncio

Emigrante Transmontano em Natal/Brasil
 

Nota de Rodapé: Este texto original foi Publicado em 2007 em Revistas Virtuais e no meu Blog ZEBICO. Todavia o Blog foi Extinto e hoje fiz uma nova revisão actualizada. 


 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 02/09/2010
Reeditado em 03/12/2018
Código do texto: T2474483
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