ITABIRA NA SOMBRA DA SAUDADE.

Itabira 162 anos.

De Itabira carrego as saudades, que me perseguem como sombras. Saudades de minha catedral com sua praça com aquele minúsculo obelisco, que chamávamos de pirulito, por onde as procissões contornavam, ou mesmo servia de referencia para separar homens de mulheres em procissão do Cristo Morto na Semana Santa. Nesta praça o paredão com aqueles inúmeros furos onde se escondiam as nossas andorinhas, mais tarde pardais expulsam usurpam seus ninhos para reprodução.

E minhas andorinhas nunca mais foram vistas pela região.

Saudade das procissões na Semana Santa, mãos queimando do toco da vela que escorria. Vivia aquela profunda emoção com lágrimas nos olhos ao ouvir o Sermão das Sete Palavras na procissão de Encontro na voz emocionada do Pe. Lopão e naquele dilacerante canto entoado pela Verônica, eu vivia, eu sentia, eu sofria na pele.

Saudades de minhas ruas de pedras escorregadias de mineiro de ferro, que me fazia perder as pontas dos dedos nas peladas diárias. Saudade daquela dor de ver o dedo sendo curado por minha mãe com uso apenas de sal e limão, doía, mas no outro dia estava pronto para novas estocadas. Saudades das risadas e dos passos desengonçados das mulheres quando perdiam seus altos saltos nas pedras de minhas ruas, quando saracoteavam suas longas rodadas saias procurando namorados nas ruas de pouquíssimos carros e muitos cavalos e mulas cargueiras.

Mas as chuvas que Deus mandava, minhas ruas sugavam com sede de beduíno.

Saudade do brilho do Pico do Cauê com sua imponência azul naquela serra, onde todos os dias assistia o tingir do céu numa vermelha poeira depois de seguidas explosões, que agitavam meu coração de menino, que achava linda toda àquela agitação de sirenes, pessoas correndo, cachorros latindo, vidraças vibrando, às vezes quebrando, eram como o Pico gritasse como um leão na barriga daquela serra.

Eu menino nem sabia que ali estava processando esta saudade que agora sinto.

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Saudade dos comícios animados e engraçados de apenas dois partidos, de andar de carroceria de caminhão de bairro em bairro e eram tão poucos que se faziam numa noite, menino seguindo gente grande na noite sem perigo da cidade, tudo era festa.

Saudade de andar pelas serras na procura de Gabirobas, nadar nas lagoas sem medo da xistose, passear pelos pomares na procura de Jabuticaba nas chácaras da Cia Vale do Rio Doce ou mesmo na fazenda Pontal da família de Carlos Drummond.

Ah, esta saudade que sinto desta Itabira que me faz hoje viver nesta distancia, coletando fragmentos, que minha mente insiste em servir em prato de barro, que buscava naquele brejo que não mais existe.

Ah, eu bem que não queria sentir esta saudade doída, mas não tem jeito, pois cada vez que me tenho estas lembranças, com a certeza, que o progresso sem controle de processos nada preservou, resta apenas esta parede sem brilho, este buraco, esta serra careca, esta velha Maria Fumaça sem apito, sem fumaça, mal cuidada na entrada de minha cidade. São estas constatações que doem muito mais do que estas recordações que agora me acompanham.

Ah, eu não queria, mas como vejo, eu não sei viver sem estas lembranças Itabira. Ainda assim eu te parabenizo Itabira.

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Uma lembrança a minha cidade Itabira-MG no seu aniversario de 162 anos de emancipação em 09/10/2010.

Aos itabiranos ausentes que como eu vivem esta saudade.

Toninhobira

09/10/2010.

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 09/10/2010
Reeditado em 09/10/2010
Código do texto: T2546186
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