À MALU DABI - para seu texto: " O Perfume da Amizade"

Malu! Já estava sentindo sua falta nesse final do ano. Muito obrigado pela visita. Aproveito para te visitar também e dizer-lhe que estou publicando meus comentários como dedicatórias aos amigos e amigas do Recanto. E você merece um, ó inteligente poetisa! Você é uma das que tem me incentivado a continuar escrevendo. Seu texto: "O PERFUME DA AMIZADE" me coloca entre aqueles que te admiram assim, ainda que virtualmente, dedico-lhe de minha parte, amizade perfumada e sincera. Deus te abençoe. Vou publicar junto a este, um trecho (O HOMEM DO BIGODE BRANCO) de um livro meu de 160 páginas publicado em 2003. Dei título à parte da prosa de: "O LAMPIÃO QUE PEGOU FOGO" - Vamos ler...

2 PÁGINAS DO LIVRO "DUAS LUZES NO HORIZONTE"

...Embora parecesse perto, porém caminhamos mais de uma hora para chegar ao local da fonte de luz. Era realmente um lampião. No momento encontramos algumas pessoas com quem passamos a conversar.

-Boa noite senhores. – disse– Estamos a procura de uma tal fazenda Porteira da Pedra, algum de vocês poderia nos informar se estamos no caminho certo?

-De onde vocês estão vindo? - perguntou um dos presentes.

-Dos garimpos de um tal João Boiadeiro – respondeu o homem do bigode branco, meu companheiro.

-Ah! Então erraram. Vocês deveriam seguir a estrada em seu sentido oeste à esquerda, logo chegariam na bifurcação da via que vai para lá. Estão a mais de oito quilômetros daquele ponto. Contudo, se forem em frente encontrarão daqui a uns quatro quilômetros, outra estrada que sai de esguelha, à direita, formando uma espécie de anzol. Deverão seguir por ela como que voltando. Tal via leva-los-á à casa do senhor Ledi, próxima da fazenda que procuram.

Depois de ouvir o rapaz, ficamos um pouco por ali, conjeturando sobre o que faríamos nos seguimentos de nossos atos.

-Que tal pernoitarmos por aqui – disse meu companheiro.

-É o que estou pensando. O moço nos deu uma boa explicação, contudo temos errado muito em nossas jornadas. Só que talvez não consigamos um pouso. Somos desconhecidos, e por aqui parece não conter pousadas..

Alguém dentre as pessoas ouvindo nossa conversa, perguntou:

-Vocês estão mascateando?

-Somos evangelistas – respondi – e Deus pôs em nosso coração de visitar essas regiões próximas de Claraval a fim de falar da graça de Deus às pessoas.

-O que é a graça de Deus? – perguntou um outro.

-É tudo de bom que uma pessoa possa ter – respondi – Só pelo fato de denominar-se graça de Deus já dá para se ter uma idéia de seu valor. Ela é como um diamante de preço inestimável; ou como

alguém que amamos: um filho por exemplo, a quem devotamos toda nossa atenção para que não venha a sofrer dano algum.

-Acho que os religiosos são fanáticos – disse um que parecia ser o dono do estabelecimento – mormente os que andam de um lado para outro querendo que as pessoas aceitem suas idéias.

-O senhor está certo – disse o homem do bigode branco – nós é que estamos tortos. Porém o que seria do certo se não houvesse o torto?

-Gozador você, não cara? – disse o sujeito que falara contra os evangelistas – No assunto acima vocês dois são os tortos e nós os certos. Vou lhes dar uma pinga. Venham para dentro de venda. Depois de tomarem uma dose, ficarão certos também.

-Eu agradeço – falei – todavia se meu amigo quiser beber não me oponho.

-Muito obrigado. Eu já bebi muito no passado, porém a graça de Deus tirou-me o vício da bebida.

-Se todo mundo fosse crente os fabricantes de aguardente mor-reriam de fome! – murmurou o homem - Querem saber de uma coisa pessoal? Os dois irão beber uma dose de pinga. Há tempos que desejo ver um desses fanáticos religiosos tomar cachaça, porém os daqui são nossos conhecidos, mas vocês dois são estranhos. Vão beber ou levarão um couro nosso - dizendo isso mandou o rapaz do balcão encher dois copos de aguardente e pegando num deles me ofereceu dizendo:

-Tome rapaz. Beba tudo ou leva umas pancadas.

No momento me vi quase obrigado a beber, pelo menos um pouco, haja vista estarmos cercados por seis deles com modos ameaçadores, momento em que o homem do bigode branco falou:

-Dê-me o copo que me pertence para que eu possa brindar com meu amigo. Se temos de beber, vamos beber logo.

Ao entregarem-lhe o copo, simplesmente pegou o que estava em minha mão e os atirou um contra o outro em direção à única fonte de luz ali existente, numa pontaria tão certeira que se estilhaçaram em conjunto com o vidro do lampião, incendiando a pinga numa coloração azul em meio à escuridão, momento em que me puxou

pelo braço e aproveitando a confusão safamo-nos dali para o meio do cerrado. Alguns seguraram seus próprios colegas achando que era um de nós. Houve uma breve viração entre eles, tentando apagar o fogo surgido, que poderia se alastrar no aguardente espalhado.

Do meio do mato ouvíamos os impropérios do dono da venda, por ficarem no escuro, e em parte, humilhado pela ação do homem do bigode branco.

-Esses dois camaradas têm que apanhar – dizia em voz alta – quero ser o primeiro a lhes dar uns chutes. Vamos campeá-los, devem estar por perto, no cerrado.

-Deixe os caras em paz, ó Gumercindo – disse alguém de bom senso – afinal foi você que procurou ter desavença com eles. Ademais há muitas cobras cascavéis naquele mato.

-Eu queria vê-los tomar pinga. Sempre desejei forçar um desses religiosos a beber e perdi essa oportunidade – falou o indivíduo.

-Você se arriscou. O moço mostra ser inexperiente mas o de bigode branco parece um veterano de guerra. Viu que pontaria! Não tanto pela direção do lampião, porém no encontro dos dois copos que explodiram junto. Rapaz! O cara deve ser bom na capoeira também!

-Pode ser. Mas que vou pegá-los e dar-lhes um pau, eu vou!...

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Aí está, Malu. Apenas duas páginas do livro de fatos reais que lancei em 2003, muito apreciado, por sinal, pelas histórias verdadeiras contidas nele.

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DESEJO-LHE UM ANO NOVO COM MUITA PAZ E PROGRESSO