À YAMÂNU - Para texto “Novo perfil”

Olá nobre companheiro do Recanto Yamânu. Espero que não te ofendas com minha homenagem de fim de ano. Vim aqui para te visitar e falar que gostei de seu novo perfil! Sabe que gosto de te ler? Você faz parte dos mistérios que envolvem minhas filosofias. Os CONVICTOS são enlaçados pela força da palavra, quer escrita, quer falada! Na primeira: na sombra da ausência, na segunda: na luz da presença. Um ateu convicto é um homem de valor inestimável; é o retrato da verdade, porém a verdade será sempre verdade, como disse "ALGUÉM QUE FOI, E É ALGUÉM". Disse ele: Na verdade, na verdade voz digo... Bem, seja como for, caro Yamânu, A hipocrisia religiosa é mil vezes pior do que o Ateismo sincero, isto é, CONVICTO. Quem diz que tem convicção naquilo que pratica é um valente na inteligência. Bravo! meu nobre colega! Seja sempre um CONVICTO, não importa se for descrente, pois é melhor a sinceridade sem fé religiosa, do que a a fé religiosa com hipocrisia, pois é falsa!

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Num complemento deste comentário estou anexando parte de um livro meu cujo título é:

DOIS VALORES DESCONHECIDOS

Em minhas peregrinações pelo mundo sempre fui acompanhado por dois valores desconhecidos. Eu só os descobri por ocasião de um encontro que tive com um grande filósofo. O fato ocorreu numa noite, quando eu repousava sob uma árvore, após ter caminhado uma longa estrada nas regiões de Natalândia.

Eu partira daquela cidade em seu sentido oeste e caminhando por várias horas dei com a subida da serra, chegando ao chapadão, em que por muitos quilômetros eu avistava o horizonte. Por ser uma época em que a safra já fora efetuada, as terras se apresentavam limpas. Nas minhas observações eu via enorme quantidade de gaviões, catando aqui e ali, talvez algum inseto ou pequenos animais.

Meu deslocamento por aquelas plagas não tinha um destino certo, contudo eu me propus a dar umas voltas naquela região alta. Após caminhar muitas horas a tarde caiu e a noite chegou. Por me encontrar numa região elevada, eu via as luzes de algumas cidades, entre elas, numa longa distância, sentido oeste, a bela Unaí.

A escuridão me dava condições de contemplar as miríades de estrelas da abóbada celeste sob a qual me encontrava. Meu intuito naquela caminhada não seria andar a noite, porém como nas demais vezes, ali também ocorreu de anoitecer sem que eu tivesse encontrado residências, ou alguma fazenda, para que eu viesse solicitar um abrigo. Só restava-me parar em algum ponto que fosse mais aconchegante e dormir, já que a melhor coisa que um caminhante poderia fazer, naquelas condições, seria ficar alheio ao mundo. Com aquele pensamento e tendo minha visão se acostumado com a escuridão da noite passei a procurar à beira da estrada em lugar que eu pudesse repousar.

Para quem conhece aquela região, sabe que as cidades são distantes umas das outras. Do ponto onde me encontrava eu visualizava aquela de onde partira: Natalândia. Não estava tão distante como Unaí. Se a gente descesse as íngremes ribanceiras do chapadão no sentido sul, em linha reta, creio que numas quatro horas chegaria lá.

O fato é que fiquei um bom tempo observando, hora as estrelas, hora as luzes de algum povoado, enfim, até o momento em que peguei no sono, pude fazer muitas observações, ouvir pios de corujas, uivos de lobos e principalmente o cantar dos grilos em meio ao mato.

Com o sono a me vencer, talvez em meia hora já estava dormindo e conforme disse: alheio a tudo que me cercava.

Em certa hora do sono pareceu-me sonhar, contudo eu me senti acordado, tendo as mesmas contemplações de quando me pusera a descansar.

Seria alta madrugada, quando com os olhos abertos eu percebi que alguém estava se aproximando, vindo pela mesma estrada em que eu viera. Fiquei ressabiado com aquela aproximação. A princípio parecia ser um animal, um boi talvez, mas era uma pessoa mesmo. Diante daquele temor e antes que chegasse muito perto, procurei sair do ponto em que me encontrava, me afastando da estrada.

Percebi que tal pessoa parou, e notando que ali havia um bom lugar, pôs-se a descansar no mesmo ponto em que eu estivera momentos atrás. Notei que ele logo dormiu.

Eu me encontrava desperto e pensava na casualidade do indivíduo querer descansar no mesmo lugar em que eu estivera. Fiquei curioso, afinal o camarada devia ser alguém que estava se aventurando como eu, a andar por aquelas estradas. Pelo que eu sabia a estrada ligava Unaí com a de Bonfinópolis, uma centena de quilômetros pela frente, todavia eu só pretendia visitar casas ou fazendas naquele chapadão.

E aquele homem? Seria um trabalhador das fazendas da região? Minha curiosidade me levou a ficar por ali. Eu não iria dormir mais, pois pretendia conhecer o camarada. Com certeza acordaria com o dia claro, e sem temor algum eu poderia conversar com ele.

Com o passar das horas a alva foi aparecendo. Ao leste eu via a tênue claridade do sol, ainda por surgir, contudo seu esplendor já se fazia notar no rubro céu matutino.

Eu ficara num ponto afastado no aguardo daquele meu semelhante acordar, vindo a ocorrer aquilo sem que o sol tivesse surgido ainda no horizonte. A luz do dia estava pora inundar o mundo em instantes. Não resistindo o desejo em saber quem era aquele homem, falei desde o lugar em que encontrava:

-Bom dia amigo.

-Oh! O senhor estava por aqui?

-Sim até lhe cedi minha cama!

-Bem vi que esse lugar estava quentinho. Mas quem é o senhor?

-Sou conhecido por Luzirmil; pode me chamar assim.

-Ah! Muito bem. Eu me chamo Tomás de Aquino. Saí de casa nesta noite para dar umas voltas mas pretendia retornar antes do dia amanhecer.

-O senhor mora nessa região?

-Não, amigo. Moro longe daqui – disse apontando o céu – tão longe quanto às estrelas!

-Ora, estamos falando sério. Morar tão longe assim não é próprio de um ser humano.

-Pois é. Eu, porém, resido mais distante ainda. Mas o que o levou a estar pousando em meio à estrada dentro da noite?

-Tenho gosto em andar a pé e muitas vezes anoitece sem que eu perceba, ocorrendo então de parar num ponto qualquer para repousar.

-Admiro seu procedimento. Tens um valor desconhecido que nem você mesmo sabe!

-Não compreendi. Que valor poderia um peregrino, cujo destino dado é andar de uma parte para outra, as vezes sem sentido?

-Amigo, existem dois valores que acompanham o homem em sua trajetória de vida, ele porém não sabe, pois se soubesse lhe seria descortinado um horizonte tão belo como este amanhecer que estamos contemplando!

-Que valores são esses?

-Um é perpendicular, o outro horizontal!

-Calma lá! Deixe-me raciocinar: Um valor é atravessado, o outro é uma reta ? Uma cruz! Seria isto?

-Não precisamente. Os dois valores a que me refiro, estão enquadrados dentro das palavras não e sim. O não seria o entendimento perpendicular, o sim seria o objetivo, reto, horizontal, portanto!

-Confesso que ainda estou perdido neste raciocínio .

-Amigo, um valor vem do alto, o outro vai de um ponto a outro no horizonte; um é do comando o outro é da matéria!

-Mas qual a descoberta que o homem poderia fazer para se enquadrar no poder desses valores. E que valores são estes?

-A objetividade, amigo, se relaciona com o comando. Nem um nem outro tem potência para serem usados em separados.

-Bem, eu ouvi, porém não compreendi. Mas diga-me: de onde vens e para onde vais?

-Eu subi a montanha a cinco quilômetros daqui; caminhei tal distância horizontalmente e te encontrei. Ambos dormimos à beira da estrada; acordamos quase à luz do dia; você tem seus ideais, eu tenho os meus, porém são perpendiculares aos ideais humanos. São estranhos. Gostaria que os descobrisse. Sou Ateu, e você provavelmente não? Estou certo?

-Ora. Bem...Como descobrir coisas misteriosas a respeito dos ideais? -Em suma, nosso tempo de conversa está sendo perdido – falei – não estou tirando informação alguma do conteúdo.

-A filosofia do nosso assunto, amigo, é profunda demais para os dias atuais, porém se adaptares o entendimento dos valores do sim e do não ao ângulo de sua vida, de seus atos e seus objetivos, certamente terás uma superioridade de raciocínio em relação aos teus semelhantes. Tudo que fizeres fundamentado na inteligência na hora de dizer não ou dizer sim, certamente terão seus encaixes, e tudo que se encaixa, não tem sobras pertinentes, nem para o negativo nem para o positivo. Os dois valores poderão ser distribuídos numa gama larga de benefícios.

-Mas que valores são estes? Eu já me fundamento em dizer não, ou dizer sim, nas horas certas, simplesmente não estou entendendo por que surgiu esta polêmica, justamente numa madrugada, quando eu estava só, em meu repouso noturno.

-Entendas que somos dois estranhos um para o outro. Suponhamos que eu seja o sim, e você o não. Que você existe e eu não. Meus objetivos não teriam razão de ser, os seus porém são cheios de lógicas, pois o não está presente em tudo, porém contendo subjetividades próprias para o sim. Precisas dos dois poderes, um é a persistência em seus ideais, o outro é a desistência, que também tem seus pontos lógicos no maleável. Em suma, meu amigo, os dois poderes estranhos que estão ao alcance do homem torna-o num valente, se for um convicto lhe dará coragem, não para enfrentar lutas contra a carne e o sangue, mas lutar pelo ideal em comum daqueles que os possuem, e para possuí-los somente com a *alta filosofia do entender.

-Preciso ter o poder de persistir e o poder de desistir?

-Sim, o homem já perdeu muito por não saber persistir, porém perdeu muito mais por não saber desistir. Até breve amigo – dizendo isto, Tomás de Aquino foi caminhando até sumir no horizonte coincidente com a noite que se ia! Lá se fora a oportunidade de saber mais coisas misteriosas de um nobre Ateu!

FIM DE: OS DOIS VALORES

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TERMINO AQUI CARO YAMÂNU, DESEJANDO-LHE UM FELIZ 2011 E AMIZADE SEMPRE, CERTO? ABRAÇOS AMIGOS A VOCÊ E AOS SEUS.