À KALENA - para todos os seus textos

Querida Kalena, conforme lhe prometi, aqui estou para publicar um comentário em sua homenagem acrescentado de algumas páginas de meus livros. Em primeiro lugar quero lhe pedir desculpas pelos erros ortagráficos e concordativos, que porventura venha encontrar. Na verdade, a gente quando escreve algum poema, prosa ou qualquer criatividade que seja, o bom é mandar alguém que entenda, ler e nos apontar os erros, pois não há escritor que faça sua obras com perfeição ao escrever. Sempre haverá de passar algum erro. Contando, pois, com sua compreensão, venho publicar este em minhas páginas, porém citando seu nome como homenageada. Espero que não se zangue. Para este, eu escolhi, ainda de meu livro “TIMBRELINO, HISTÓRIAS DE UM VIOLINO” um trecho intitulado: OS CINCO CONSELHOS, esclarecendo que tal história me foi contada por meu pai quando eu era criança. A ela todavia acrescentei um conselho a mais, pois a que meu pai contou chamava-se “Os Quatro Conselhos”

A HISTÓRIA DE JUVENAL

Obs. Este conto tem como complemento dado por Luzirmil, o quinto conselho. Porém tais conselhos são todos de autores desconhecidos. (JUVENAL COIMBRA 1902-2004 - ERA PAI DO ESCRITOR LUZIRMIL)

PARTE DO LIVRO: HISTÓRIAS DE UM VIOLINO – DO AUTOR

JUVENAL E A GUERRA

Ele nascera num lar humilde, seus pais eram laboriosos trabalhadores de roçados. Desde pequeno Juvenal tinha tendências para artes musicais.

A primeira vez que viu um violino foi no ano de mil novecentos e vinte e sete. Ficou encantado a ponto de solicitar ao pai que conseguisse um para si.

O Sr. Joaquim, seu genitor, fez o possível para adquirir um, sob duras penas, já que havia poucos artesões no ramo.

Em pouco tempo Juvenal passou a dominar o instrumento. Sem estudar métodos, ou outros aplicativos, contudo logo criou fama, vindo a ser solicitado para tocar em muitas festas.

Numa dessas festividades conheceu uma linda jovem por nome Carmem com quem veio se casar mais tarde, indo eles morar distantes de suas famílias de origem.

Cerca de um ano viveram felizes; o violino era um ponto de

união entre os vários amigos e famílias que apreciavam suas execuções.

Naqueles anos o mundo estava conturbado pela guerra mundial, mas o povo não dava muita importância, haja vista os fatos serem poucos conhecidos pelas massas. Certo dia, porém, levaram Juvenal para o campo de batalha. Sua esposa estava grávida do primeiro filho, contudo não voltou para sua parentela. Tendo boa vizinhança ficou morando onde estava, a espera da volta do marido; tinha esperança que ele voltaria algum dia. O violino foi guardado, como uma terna lembrança de seu amado.

Passaram-se os dias. No fronte muitos soldados morriam. Num ataque aos inimigos, Juvenal foi ferido; levaram-no para o hospital de guerra, onde constataram fratura craniana. Sua recuperação foi lenta, acompanhada de total esquecimento.

A guerra terminou mas Juvenal não se lembrava de nada sobre sua vida. Sem documentos, pela devastação da guerra foi trabalhar numa fazenda distante de sua terra, onde ficou por vários anos sem saber de onde viera e quem era. Nem do violino tinha lembranças.

Seu patrão, um senhor por nome Anibal, tratava-o com muita consideração; para ele não interessava saber quem era Juvenal, cujo nome ninguém sabia. Chamava-o de Sebastião; tinha-o como um prestador de relevantes serviços na fazenda.

Ocorreu que no transcorrer dos dias Juvenal saiu de sua amnésia. As lembranças de sua mente voltaram claras. Recordou-se da família, principalmente de sua mulher que muito amava quando partiu de casa. Lembrou também de sua arte; era exímio violinista.

Mediante tais lembranças conversou com o patrão, falando humildemente tudo sobre sua vida antes da guerra, este veio a compreender, concordando que Juvenal deveria voltar para o seio de sua família, lugar distante de onde se encontrava.

Fazendo as contas dos anos que trabalhara achou-se a soma

cinco mil réis. Seu patrão porém, quis fazer com ele alguma

negociação: ao invés do pagamento, lhe daria cinco conselhos.

Juvenal, como sempre, modesto e humilde, aceitou de bom grado a troca, sem pensar nas conseqüências por viajar sem dinheiro.

O PAGAMENTO INSTRUTIVO

Meu caro Sebastião - disse-lhe o patrão - os conselhos que vou lhe dar, certamente te servirão pelos caminhos, se os observares ao pé da letra.

O primeiro deles é: "Nunca deixes caminhos certos pelos duvidosos, ainda que sejam atalhos".

O segundo ensina que: "Em casa onde houver velho casado com mulher nova, nunca pernoites".

O terceiro diz: "Nem tudo que se vê, pode ser dito que foi visto"

O quarto deverás ter na lembrança que: Para se justiçar alguém pelas aparências é necessário ver e ouvir três vezes".

O quinto conselho atesta que "Mesmo em sonhos nunca desejes mal ao teu próximo, mesmo sendo teu inimigo".

Eis aí meu bom Sebastião, cujo nome é Juvenal. Podes partir; Lembra-te sempre dos conselhos!

A tarde caia monótona. Juvenal despediu-se cheio de esperanças. Tinha um único pensamento fixo em sua mulher amada. Sua meta era encontrá-la; não medira o tempo que estivera longe, pois viveu em esquecimento por muitos anos. Parecia-lhe que havia passado apenas alguns dias. Mesmo da guerra, pouco se lembrava.

Ao cair da noite, um cavaleiro o alcançou. Era seu patrão, que lhe disse:

-OH! Juvenal. Fiz um teste contigo! Aceitastes de bom grado minhas instruções, mereces, pois levar teus cinco mil réis. Eis aqui o que te pertence por direito. Parta lembrando do velho Aníbal. E não esqueças dos conselhos!

Juvenal ficou contente, afinal estava preocupado de como

fazer para se arranjar sem dinheiro. Caminhando sempre, chegou a uma hospedaria.

Foi fácil conseguir um abrigo para aquela noite; afinal tinha com que pagar.

Fez amizades com outras pessoas, dentre os quais três, que iriam para as mesmas regiões a que se dirigia.

No outro dia de manhã, agora com seus três companheiros, partiram. Informados dos caminhos a seguir, andaram juntos umas duas léguas, quando ficaram sabendo de outro informante, um caminho mais curto para chegar em seus primeiros destinos; porém pareciam duvidosos.

Juvenal lembrou-se do primeiro conselho. Tinha certeza do caminho ensinado na hospedaria, mas daquele não. Disse então aos amigos que não seria bom tomar estradas incertas, afinal não conheciam a região; vindo um deles a lhe dizer:

-Mas é um grande atalho, a gente pode perceber pela direção que estamos indo. Veja quantas árvores margeando a trilha; com este sol abrasador, nós vamos por aqui mesmo, afirmou.

Convicto, Juvenal se separou deles seguindo debaixo de um sol quente, já que a estrada certa, além da dar uma longa volta, não havia uma única árvore.

Depois de caminhar muitas horas, quase anoitecendo, chegou numa outra hospedaria, umas seis léguas além.

Procurou pelos amigos, mas não haviam chegado ainda.

Naquele instante, porém, chegou um deles, moribundo, caminhado com dificuldade e assim lhe falou:

-Fomos atacados por três bandidos que mataram meus dois amigos, porém morreram também na luta que travamos. Levei algumas facadas, e creio que não resistirei. Consegui trazer os despojos dos meus amigos e dos próprios ladrões. Faça meu enterro e fique com tudo; não tenho, e nem eles tinham famílias pra quem deixar nossos pertences.

Juvenal chorou pela perda dos amigos, embora de infortúnios, contudo eram gente boa. Fez o funeral daquele e partiu

cheio de sentimentos. Juntou mais de vinte mil réis ao que possuía. Tirando alguns gastos ínfimos com a hospedaria, estava com uma boa soma.

Sua jornada continuou no outro dia; entre perguntas e informações ia dirigindo-se pra sua terra.

Ao cair da próxima noite, cansado e sujo da poeira, avistou ao longe uma linda fazenda.

Dirigindo-se para lá no sentido de obter um pouso, ao bater palmas, recebeu-o um velho, aparentando ter uns oitenta anos, que amavelmente o acolheu concedendo-lhe o solicitado.

Gentilmente, o bom velhinho demonstrou muita hospitalidade; mas ao ver sua mulher, Juvenal preocupou-se: Era jovem e muito bonita.

Lembrou-se das instruções de senhor Aníbal, o velho português que dizia: "Em casa onde houver velho casado com mulher nova, nunca pernoites"

Mas o que fazer? Como poderia, sem explicação alguma, partir dali? O velhinho muito hospitaleiro não lhe dava tréguas, nem para raciocinar. Resolveu ficar, todavia não dormiria dentro da casa; afinal deveria de qualquer forma seguir o conselho.

Esperou que todos dormissem e sorrateiramente saiu para fora, indo dormir numa moita, próximo a um paiol de milho. Porém não conseguia conciliar o sono.

Na madrugada ouviu vozes. Vinham em sua direção; ficou bem quieto assuntando. Ao clarão da lua, pode ver um homem e a mulher do velhinho. Estavam tramando algo depois que o mataram. Falavam em por a culpa nele; já que estava pernoitando lá seria fácil acusá-lo e condená-lo. Sua mente trabalhou rápido; conseguiu sem que percebessem, cortar com uma tesoura que levava, uma porção redonda da roupa que o homem vestia. Seria o único meio de provar sua inocência.

As ocorrências deram-se conforme o que combinaram. Juvenal foi preso. Porém pode provar que não cometera o crime.

Tais provas redundaram nas verdades ditas por ele, testificadas com os recortes das vestimentas do assassino, que não pode negar a trama.

Houve um grande alvoroço na cidade. Juvenal precisou ficar alguns dias impedido de continuar a viagem. O velho fazendeiro, por nome João Bento, era muito rico.

Nos levantamentos dos documentos que foram para a delegacia, encontraram os testamentos nos quais se achava escrito que toda sua riqueza seria deixada, caso fosse assassinado, a quem descobrisse os autores de sua morte. Desconfiava de muitas pessoas interessadas em vê-lo morto, entre os quais sua própria mulher.

Mediante tais documentos, foi passada para Juvenal, no cartório local, toda a fortuna pertencente ao velho, já que fora ele, Juvenal, o descobridor de tais criminosos.

A partir daqueles fatos, Juvenal, agora um homem rico, tomou um dos bons cavalos da fazenda para nele seguir.

Dali para frente andaria mais rápido. Estava morrendo de saudades de sua mulher.

Cavalgou no bom alazão até a noite cair; quando passando nas proximidades de uma bela estância, achou que poderiam lhe dar um pouso.

Ao se aproximar, viu um homem sentado folgadamente numa cadeira de balanço. Indo até ele, perguntou se lhe arranjaria um pouso praquela noite.

Hospitaleiramente o homem o recebeu, dizendo-lhe chamar-se Otacílio a uma pergunta feita por Juvenal, e já foi convidando-o a entrar, oferecendo-lhe um bom apartamento e lugar para acomodar o animal. Juvenal pode até tomar banho, mas quando ia repousar seu anfitrião lhe disse:

-Gostaria de mostrar-lhe algumas coisas: meus móveis, troféus e coleções; orgulho-me deles. Venha; tenho prazer em apresentar aos meus visitantes as coisas de minha casa.

Juvenal achou importante aquele convite. Acompanhou-

o por toda a residência. Numa sala no subsolo viu potes cheios de moedas de ouro, brilhantes e até dinheiro; porém em outra sala viu ossos humanos, caveiras e muitas coisas que o impressionaram.

Bem – disse-lhe o senhor Otacílio - vamos dormir. Sinta-se a vontade; seu cavalo está bem cuidado pelo vaqueiro da fazenda, amanhã não precisas levantar tão cedo. Depois de um bom café seguirás teu caminho.

Mas Juvenal estava impressionado demais para dormir. Em seus pensamentos bailava o terceiro conselho do velho Anibal: "Nem tudo que se vê, pode ser dito que foi visto"

No dia seguinte, depois de um bom café com pães de queijo, bolo delicioso e leite com chocolate, Juvenal preparou-se pra seguir sua jornada.

Já montado em seu alazão, na despedida, o fazendeiro falou:

-Ontem, antes de dormir, mostrei-lhe tudo em minha casa, gostaria de saber o que mais gostastes de ter visto entre meus pertences?

-Oh! Perdoe-me, senhor. Sofro uma grave doença cerebral e esqueço tudo algumas horas depois dos fatos; infelizmente não me lembro de nada do que está me falando. Desculpe-me por não lhe ter avisado; é um problema mental que os médicos até hoje não conseguiram curar-me.

-Incrível! Não te lembras de nada?

-Infelizmente não, senhor; inclusive as pessoas com quem convivo, fogem-me da mente em poucas horas; tenho tido muitas aflições com isto; mas fazer o que? É uma enfermidade.

-Se é assim, vou até dar-lhe um presente; visto que não te lembras não há perigo. Os que aqui vêm, jamais seguem suas viagens: para que não venham a denunciar-me, liquido-os e escondo seus corpos na sala das caveiras.

Dizendo isso foi lá dentro e trouxe um pequeno surrão, cheio de moedas de ouro, contendo mais de duzentos contos de réis presenteando Juvenal, que seguiu mais rico de volta para o lar.

O alazão em sua marcha constante ia encurtando as distâncias. Juvenal já estava conhecendo aquelas plagas; encontrava-se em sua terra natal. Chegou em casa por volta das nove da noite. Tudo estava como havia deixado.

Aproximando-se, porém, ficou estarrecido: Eis que um homem abraçava sua mulher. Pela janela viu a cena e ficou louco de ciúmes; como levava uma arma, quis atirar nos dois; porém um pensamento veio-lhe à mente: "Para se aplicar justiça contra alguém é preciso ver e ouvir três vezes" pensando assim aproximou-se mais, e além de ver, pode ouvir as seguintes palavras:

-Mamãe, ao dormir esta tarde tive um sonho estranho: pareceu-me ver papai retornando, muito rico. Que sonho! Ah! Mamãe, como tens sofrido sem meu pai nem pude conhecer!

-Oh! filho! A guerra o levou para sempre! Já faz vinte anos! Eu o amava tanto! Ainda bem que Deus me deu você por companhia!

Naquele momento Juvenal estremeceu. Lembrou-se que sua querida Carmem esperava um filho quando partira.

Chorando bateu na porta. Foi o próprio moço a abrir. Carmem deu um suspiro ao vê-lo. Os anos não os havia envelhidos. Entre abraços e lágrimas de alegria passaram os primeiros momentos de emoção, alegres por aquele acontecimento maravilhoso.

Foi uma grande felicidade para um pai, mãe e filho, unidos depois de longos anos. Nos dias subseqüentes mudaram-se para a fazenda que o Sr. João Bento deixara como herança a Juvenal.

Logo surgiram os inimigos, invejosos, os quais começaram a perseguir aquela família, em cuja sorte Deus se fizera presente.

Numa noite, porém, em sonhos, Juvenal viu um grosso livro em cujas páginas encontrava-se escrito o destino das pessoas.

No sonho uma voz dizia: o que escreveres nas páginas em branco a respeito de seus inimigos, irá acontecer.

Juvenal pensou em escrever vinganças contra eles, porém lembrou-se do quinto conselho do velho Aníbal: "Nem em sonhos deseje mal ao teu próximo mesmo sendo teu inimigo"

Com aquele pensamento procurou no livro, a página de sua vida. Viu escrito nela, muitos males pelos quais estava passando, apagou e escreveu coisas boas e alegres; preocupou-se em cuidar de sua própria vida.

A partir daquele sonho foi só felicidade; nos anos seguintes mudaram-se para a Terra de Vera Cruz, onde viveram muitos anos, tendo ainda três filhos já que depois do primeiro vieram mais dois. Todos sabiam tocar violino.

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QUERIDA KALENA, DESEJO-LHE UM DOIS MIL E ONZE REPLETO DE BEM AVENTURANÇAS, E QUE SEUS IDEAIS SE REALIZEM CONFORME SEU BOM DESEJO – ABRAÇOS AFETIVO E FRATERNOS; AQUELE A VOCÊ E ESTES AOS SEUS ENTES QUERIDOS.