Homenagem à crianças mortas

Ela se foi...

talvez por um destes tantos atalhos que só os anjos conhecem

neste desenrolar infinito de idas e vindas...

deixou comigo seus restos mortais...

seus eteceterais e tais, mas jamais um ponto final!

deixou seus vestidinhos, seus brinquedos deixados por Noel

deixou suas senhas, resenhas, seus rabiscos, deixou no porta-retrato

seu cadastro de gente, seus vestígios, sua candura...

mas o destino espreita com olhos de varredura!

e ainda descrentes, ficamos ausentes do ser e da criatura...

se pudéssemos fazer uma caricatura

pintaríamos o acaso como um falconídeo Carcará

que pega-mata e come suas vítimas incautas!

Ela se foi...

deixando pra trás seu amor colorido, suas saias floridas

suas risadas orvalhadas como "Manhãs bem fresquinhas"

seus olhinhos meigos como "algodão doce diante de olhos inocentes"

este olhar que tão pouco viram o amanhecer ou o que é o viver...

seus sapatinhos que pisaram tão pouco pelo cascalho da vida...

Ela ainda vive em nós, como "nós" apertados

se plasmou no seu quartinho onde sua luz não se apaga nunca...

Seu cheirinho ainda está impregnado em suas roupas

morreu assim como tantos anjinhos

de repente mutantes e já se foram em instantes...

Somem do nada como fadas dançantes voláteis...

Ela se foi...como numa aquarela

de que me adianta estar neste espaço profundo

se ela consigo levou o meu mundo com ela

deixando comigo o dela?

P.S. (Homenagem a série de reportagens intitulada: Como nascem e vivem os anjos do Jornal extra-RJ) e a todos os pais que sofrem pela perda de seus queridos e amados anjos.