Memórias do Marcelino

Homenagem ao amigo Marcelino Silveira.

O Marcelino que eu conheço não é o do Pão e Vinho,

Mas é o Silveira de Santa Cecilia

"Véio de guerra", que veio do Sul e se fincou na paragem do Corisco e dai só arredou por poucos tempos, e ao que parece, quer ficar nas bandas do Rio Correntes de Santa Cecilia, que não tinha correntes e de correntes só eram as águas do rio que hoje foi feito "córgo", que mal anda de tão represado que está, além de pesado e poluído...

O Marcelino que eu conhecia nos primeiros anos que nos conhecemos era um cinegrafista sem marca ou estilo oficial. Mas muito estilado nos temas preferidos, especialista.

Era o artista das quinquilharias que se moviam quando ele as tomava a sério

Aos poucos eu fui conhecendo melhor o homem de fé, com o passar dos kms percorridos nas barrentas e poeirentas estradas e sempre as mesmas da paróquia. Sábado após sábado, domingo após domingo, enquanto repetia sem lembrar que já tinha contado os mesmos fatos, uma, duas, treiz ou mais vezes, deste tempo que se completa 5 anos.

Marcelino Silveira, vereador, não conheci.

Marcelino Silveira, tropeiro, só de papo ou fato isolado, ou o especialista em resolver não sei nada, ou quase nada. Não me importo. O que sei é o que foi confessado, entre uma e outra capela ou reunião em que participou na humilde presença silenciosa, despretensiosa, respeitoso na presença dos ministros de Deus que estivessem nos encontros e reuniões.

O Marcelino que eu conhecia, é que dizia;

" O senhor manda, e eu obedeço". E "então vamos para o velório", ou então "amanhã às 13,30, para a capela tal". Sempre atento atenciosamente, a qualquer gesto ou pedido, aceitava aquilo que talvez não lhe coubesse nas ideias, ou das quais discordasse pessoalmente.

O Marcelino, O Silveira, que tinha como companheira Isaura, "Coruja Velha", também ela "Véia" de guerra.

Contou-me várias vezes como a conheceu e a pediu em casório.

Se o velho fusca da Paróquia fosse uma fita de gravação, daria umas 50 horas de conversas, em que de religião 45, e de piadas só as outras cinco horas.

O Marcelino Silveira , das rezas não tinha muitas, mas as mesmas e velhas rezas de meu velho pai que ele conhece em mim, e pessoalmente um dia conhecerá

Eu conheci o Marcelino da HOSPITALIDADE e nem precisaria dizer mais nada.

Sempre lembro Mateus 25.

O que diz isso lá? O mesmo que em Tobias: Fazer caridade até a exaustão.

Pastoral da Acolhida, aprendam com ele. Perguntem a ele e às pessoas de sua casa.

Pastoral da Acolhida termina na ressurreição de poucos mortos na alma, acolhidos de corpo faminto e desesperado, devolvidos aos seus endereços depois de muitos tropeços.

O Marcelino que eu conheci, eu o conheci nas andanças sem fim das curvas, subidas e descidas na lama, na água de rios e "córgos", onde não ficam marcas, mas que deixaram marcas indeléveis em mim ao escutar nas capelas e casas visitadas os papos e os assuntos de tantos beneficiados com um café, um toicinho, uma refeição completa com pouso e vestimenta para os pequenos.

Se as táboas velhas e as paredes de sua casa falassem, eu ficaria quieto e muito mais vocês saberiam do que me foi confiado enquanto o velho fusca, tentava se manter inteiro dentro dos buracos cheios de água.

Se quiserem saber quem o Marcelino foi, aquele que eu conheci, não perguntem aos inimigos ou no fórum, na câmara, ou nos partidos.

Perguntem aos pobres e nas plagas longes onde se espalham os que ele amou como Cristo pediu.

Sei que você não sentaria toda semana 2 ou 3 horas, para ouvir o senhor Marcelino abrir arquivos do seu passado.

Mas, ele sentou comigo e assim facilitou o tedioso trabalho de percorrer as infelizes estradas cheias de colchetes e maldições e até de cadeados emperrados.

Perguntem nos Biribas, na Oveiros, ou então em S. Roque ou no Vida Nova. Senão estes, tem o Areião, e a Polpa, ou então Campo Alto, ou Waelí. Se quizer, pergunte na Coletoria, Anta Morta, ou no Frascal, ou Frascamann.

E tem mais: tem o Rio Bonito, Passa Dois, ou "Coro Danta", ou no Emiliano Belli. Quem sabe, pode perguntar no Ernesto do Rio Bonitinho, ou na Sepultura. Pode também perguntar no Goulart, ou no Girau, ou no INFERNO do São Cristovão ou no ” Planeta dos Macacos”. Tem gente que falaria também no Batalhão ou na Santa Terezinha da Estação, no Aparecida ou na Garagem.

Em vez de falar do Marcelino como estou fazendo, escute quem tem algo para agradecer ao senhor Marcelino.

Procurem rastros dos beneficiados na casa da Familia Silveira, ou no Hospital e Maternidade de Santa Cecilia; ou também na Câmara e em outros lugares afins.

Não ouça os comentários dos poderosos, mas os dos amigos e dos humildes.

Deixa que o tempo e a história façam seu trabalho.

Eu conheci o Marcelino das confidências feitas a mim e que eu ouvi dele, feitas a outros.

Conheci o Marcelino em cinco anos. 99 a 2005.

Outros fatos menores naturais aos viajantes não interessam mais do que foi falado.

Só mais um detalhe:

"Onde esta o Marcelino?"

" Ele já está na capela mortuária ".

Não, Ele não estaria em outro lugar naquelas horas.

Se esqueci ou deixei algo que vocês conhecem, contem-me para eu saber...

Rohier.

Pinto Bandeira, RS. 16 e 17 de outubro. Primavera de 2006

Agora são 23,50 hs.

Stela Bogorni
Enviado por Stela Bogorni em 13/02/2011
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