Zé Baixinho entre a vida e o pilão - João Evangelista

ZÉ BAIXINHO ENTRE A VIDA E O PILÃO - João Evangelista

De: 1.975 até 1.976, a estiagem foi de amargar no nosso semiárido baiano.

Na época, morávamos em Barra do Mendes; meu pai, minha mãe comigo e mais cinco irmãos, que quando enfileirados, parecia um jogo de lata de mantimentos. Deu pra entender? Bem.

Os governantes , não me lembro se , estadual ou federal, mandaram para a nossa região, uma frente de serviço para o povo trabalhar, na abertura de tanques, estradas e outros serviços pra não dizer que iriam receber uma “merreca” quinzenal, e uma certa quantia de “arroz com casca.” Logo o povo já comentava que aquela frente de serviço era o DERBA.

O avô de Vila tinha um pilão de aroeira, que ficava perto de sua casa, na Pça. Francisco V. Tosta, na mesma, que “nós da classe pra lá de baixa,” era o dia todo, todos os dias, PUF,PUF,PUF, ou era , tum,tum tum, -não sei como é que se escreve pancada de pilão-, meu pai trabalhava com o saudoso Seu Silvio marceneiro, fez um pilão de cangalheiro para desafogar a demanda. Ele gostava de tomar uns “biritas”e na fogueira falou: -Eu quero viver so até o dia que esse pilão furar. Rapaz! Como a fila no pilão do avô de Vila era grande e o comentário rolou que meu pai teria feito um, ai não deu outra; o pilãozinho era de casa em casa e até altas horas da noite se escutava o tinido do “caba.” Numa certa noite, meu painho chegou mais pra lá do que pra cá e começou uma discussão com minha mãe. Quando os ânimos já estavam bem alterados, minha mãe falou: pode xingar, lástima; Tú já tá pra morrer mesmo! – Meu pai apesar de ta meio chumbado ficou surpreso com aquela conversa e perguntou: por que? Você vai me matar?- minha mãe disse: -não, mas tú tá esquecido que fez o pilão foi com a madeira deitada e no rojão que vai, Eu olhando no fundo dele, vi que não falta dois dedos pra furar. Ah, rapaz! Meu pai passou a mão num machado , catou o pilão, jogou no terreiro e... tcham. – “pancada de machado lascando lenha se escreve é assim mesmo? Me ajuda ai!”- Antes de você me levar eu te levo, pilão.

E graças a Deus e talvez a essa machadada, no último dia 7 de março de 2011, meu velho e querido pai completou 75 anos. “Sem beber há anos, é óbvio.”

CARO LEITOR

Desculpas pela história, que provavelmente você irá achar sem graça. Mas, quem conhece o meu pai, “ZÉ BAIXINHO,” sabe que até o seu jeito de falar faz a gente sorrir.

João Evangelista- Vange- Salobro-março de 2011.