À dona Francisca

Há pouco, pus-me a lembrar de dona Francisca (minha avó), chamando por "mal uvidas" as netas todas, menos eu - que fique bem claro.

Na verdade, ontem, conversando com um amigo sobre ausência (nesse caso, passageira) dei-me pela falta que vovó me faz, com suas longas pernas e curtos cabelos, me abençoando independente da situação. Havia sempre um bolo no forno, um café amargo e um jeito todo dela - um tanto tímido - de dizer que me amava e que se houvessem castelos, em seus cochilos vespertinos, seria eu a sua eterna princesa.

Vovó nunca mudou comigo, nunca vai mudar... e, quando volto à sua casa, não nego o desconserto; nada é, como fora. As pernas, que vem e vão, não são tão compridas e, talvez por isso, façam mil vezes o mesmo percurso, antes de "passar" um simples café. Parecem tontas; é curioso como parecem perceber, tanto quanto eu, que a alma da casa a deixou e, por isso, dona Chica, ninguém esperava.

P.S.: E a moral da história é: Que chore-se apenas o imutável. Pois, para vocês não sei, mas para mim já é tarde demais.