Maurílio Pinto de Medeiros: competência em forma de policial

Setenta anos de vida! E que vida, hein, doutor Maurílio?! Como o tempo passou rápido. Parece que foi ontem, eu ainda criança já folheava as páginas policiais e via sua fotografia. Na hora do almoço, lá na minha inesquecível casa da avenida 6, no Alecrim, onde morei por 32 anos, a Rádio Cabugi fazia companhia com o "Patrulha da Cidade". E tome notícia envolvendo seu nome: era doutor Maurílio pra lá, doutor Maurílio pra cá...

A vida e suas peripécias, curvas e retas que não se encontram, idas e vindas quase intermináveis, o relógio não parou, fui crescendo e eis que, lá no começo da década de 90, virei repórter da Rádio Nordeste AM. Todos os dias, acompanhado do colega Ivanaldo, piloto da Kombi que nos levava a quase todos os lugares, eu andava pelas delegacias, Itep, pronto-socorro do Walfredo Gurgel e, claro, chegávamos ao porto seguro da Secretaria da Segurança Pública, a SSP, lá na Ribeira, naquele belo prédio que hoje, pelo descaso de um monte de irresponsáveis, está abandonado. A passagem pela recepção, os longos corredores, a escadaria, um cafezinho, mais um corredor, lá no final ficava sua sala, aliás, seu gabinete. Minha memória mais remota leva-me à janela, onde eu esperava que Ivanaldo jogasse a ponta do fio de cem metros, para poder plugá-lo ao microfone. Estava pronto o nosso equipamento para mais uma entrevista. Celular, e-mail, Twitter, essa modernidade não nos pertencia. Aprendi a ser jornalista buscando a notícia, andando, perguntando, esperando, cansando, discutindo, seguindo o rabecão, vendo defunto, correndo riscos em tiroteios... E conversando, sempre, com o melhor policial de todos os tempos por essas bandas.

De volta à SSP, lá estava eu, ao vivo para todo o Estado, muitas vezes tremendo mais que vara verde, inexperiente todo, de frente para o Xerife. A plaqueta sobre a mesa confirmava: "Bel. Maurílio Pinto de Medeiros". Era o homem! Ele estava ali. Em carne e osso. Aquele que eu via nos jornais, que ouvia na rádio, estava pronto para responder minhas perguntas. Que saudade daquele tempo, doutor Maurílio!!!

Sempre educado, doutor Maurílio, faço questão de chamá-lo assim, nunca deixou de responder um questionamento meu. Sempre me tratou bem - mesmo quando o assunto era mais polêmico e o envolvia em denúncias -, de forma respeitosa, sincera e o tempo, esse sujeito que revela as verdades do mundo, nos transformou em amigos. De lá pra cá, muita coisa mudou. Menos o amor de doutor Maurílio pelo trabalho, pela polícia... Este homem que hoje, 24 de agosto de 2011, completa 70 anos de idade é um exemplo de profissional. Herdou do pai, coronel Bento Manuel de Medeiros, as ferramentas necessárias para ser uma pessoa de bem, um trabalhador excepcional, um investigador insuperável.

A verdade sempre foi aliada do doutor Maurílio. Por isso continua sendo respeitado e sua palavra vale muito mais que a maioria das leis do nosso Brasil, que vivem dando colher de chá a todo tipo de bandido. Tenho a felicidade de ter acompanhado diversos trabalhos do veterano delegado. Quantas vezes estávamos conversando e o telefone tocava. Do outro lado da linha, um informante. O velho Xerife anotava tudo, fazia algumas perguntas. Dias depois, às vezes poucas horas depois, aquela conversa se transformava na prisão de um marginal. Maurílio foi acostumado a prender bandidos de verdade, não alguns sem futuro que hoje fazem a alegria da turma que acredita ser bem informada porque vive conectada à internet.

Maurílio Pinto de Medeiros sempre foi corajoso, esperto, inteligente. Recentemente, passei, se não me falha a memória, quase um ano sem vê-lo. Semana passada, numa homenagem que a Polícia Civil prestou-lhe, na agora Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), encontrei meu amigão, vascaíno igual a mim! Não chorei de emoção porque não tinha lágrima pronta, mas pude cumprimentá-lo, abraçá-lo e conversamos um pouco. Eu e o doutor Ferraz, subsecretário da Sesed e também um excelente profissional, acompanhamos o Xerife até o carro que o levou à sua casa. Os passos estão lentos, o corpo mais franzino, mas o brilho no olhar, principalmente quando começa a falar do seu trabalho, permanece inalterado.

O delegado Maurílio Pinto dedicou 47 anos da sua vida à Segurança Pública do Estado. A aposentadoria chegou há pouco mais de um mês e agora, confessou-me em nosso mais recente encontro, sonha nas diligências, prendendo marginais, fazendo investigações, defendendo a sociedade, como sempre fez.

Parabéns, Xerife! Que Deus o abençoe. E obrigado por tudo.