SARA -  UMA GAROTA FELIZ  (3)


      
Como pedira o pediatra Tio Raul,fomos procurá-lo. Queria ver-me com calma, examinar-me e concluir diagnóstico iniciado antes da viagem de mamãe. ( Eu fora vê-lo apenas por causa de um resfriado, mas ele detectou outros problemas que demandavam maior cuidado. Só o disse à tia Noêmia, para que mamãe pudesse viajar despreocupada.)

 

       Começamos a maratona de exames, alguns muito dolorosos, todos indispensáveis ao resultado do diagnóstico, eu chorava muito e minhas acompanhantes também.  Conclusão: eu era portadora de paralisia cerebral, falhas no desenvolvimento do cérebro, deficiência na visão, e... um futuro bem nebuloso...  Mamãe teria trabalho pelo resto da vida... Ganhara uma filhinha  “especial.”

 

          Pensam que ela desanimou ou pensou em devolver-me?  Qual nada!... Era batalhadora, corajosa e destemida.

 

        - Se Deus a trouxe às minhas mãos, SARINHA, vamos em frente, vamos buscar tratamento e alívio, vamos à busca do nosso futuro, vamos com fé e segurança, confiantes e sempre acompanhadas da esperança que nos irá animar!...

 

          E partimos para a luta!...

 

       Voltamos para Brasília e Cici ansiosa queria saber de tudo. O que acontecera comigo. Mamãe emocionada, mas calma, contou-lhe em detalhes todas as conclusões a que chegara o pediatra. Eu carecia de tratamento especializado e quanto mais cedo o iniciasse, melhores

seriam os resultados.

 

       Daí em diante começa a nossa luta.

 

             Mamãe contratou uma fisioterapeuta, Tia Verônica, para iniciar os trabalhos de fisioterapia comigo. E quando ela chegava alegre e sorridente, eu ficava muito feliz.

             Ela cantava comigo (desafinada!...) mas mesmo assim eu sorria prá ela, e cantava também. Os exercícios, embora doloridos, eram feitos com muito carinho e eu progredia rapidamente.

             Aos poucos mamãe foi montando uma pequena academia em casa, tão decidida estava a ver-me em melhores condições. Eu agradecia seu esforço e procurava corresponder ao trabalho de Tia Verônica.

       Eu me achava bonita no espelho que ela colocava à minha frente e sorria para mim mesma quando conseguia realizar todos os exercícios que ela tentava ensinar-me.

Ela ficava feliz, animada, e incentivava-me cada vez mais.

 

        Cici trouxe, para morar conosco, sua filha Neiracy que ficou logo minha amiga e tomava conta de mim enquanto Cici fazia o serviço da casa. Ela cantava comigo, dançava e brincava  (barulhenta ! ) e eu adorava...

 

             Mamãe resolveu batizar-me, já estou com sete meses  e ela  não  quer  adiar  minha  inclusão  à     tradição  de sua         família.

                    Escolheu como meu padrinho seu amigo Gustavo César Lagares e para madrinha Rossana Martins Furtado Leite, filha de seu colega e grande amigo Floriano. A cerimônia foi na Igreja de São Pedro de Alcântara em Brasília, no dia 4 de outubro de 1987. Presentes apenas alguns amigos de mamãe, mas eu fiquei muito contente.  Não chorei quando o padre me jogou água fria na cabeça, até gostei: o calor estava forte. Aquele sal que ele me colocou na boca estava bem gostoso, até lambi e Cici ficou rindo,pensando como eu estava gulosa...
 

   ( Extraido do meu livro SARA-UMA GAROTA FELIZ )

Linandre
Enviado por Linandre em 21/09/2011
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