AO MESTRE COM CARINHO

Ao mestre com carinho

No dia 15 de outubro de 1827 (dia consagrado à educadora Santa Teresa de Ávila), Pedro I, Imperador do Brasil, baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil, onde ordenava que todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras com as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até uma cláusula que explicava como os professores deveriam ser contratados. A ideia, inovadora e revolucionária, teria sido ótima - caso tivesse sido cumprida, mas essa foi, provavelmente, a primeira vez que a educação foi deixada de lado neste país.

Somente em 1947, 120 anos após o referido decreto, que ocorreu a primeira comemoração de um dia efetivamente dedicado ao professor. Quatro professores do extinto Ginásio Caetano de Campos, conhecido como “Caetaninho” no bairro da Bela Vista em São Paulo, tiveram a ideia de organizar um dia de parada para comemoração dos profissionais ligados a educação e também para análise dos rumos para o restante do ano. Também foi acordado que professores de todos os estados enviariam seus estudos sobre o andamento da educação em seus estabelecimentos para que pudessem contribuir, na prática, para a constante melhora do ensino no país. Por falta de verbas e tempo, essa parte do projeto (talvez a mais interessante) não foi levada adiante. Novamente a educação foi deixada de lado. O professor Salomão Becker, entusiasmado com o projeto, sugeriu então que o encontro se desse no dia 15 de outubro. O discurso do professor Becker, além de ratificar a idéia de se manter na data um encontro anual, ficou famoso pela frase "Professor é profissão. Educador é missão". Com a participação dos professores Alfredo Gomes, Antônio Pereira e Claudino Busko, a idéia estava lançada. A celebração, que se mostrou um sucesso, espalhou-se pela cidade e pelo país nos anos seguintes, até ser oficializada nacionalmente como feriado escolar em 1963.

Agora em 2011, novamente comemoramos o dia do professor. Do projeto inicial restou apenas o feriado escolar. O mais interessante para a maioria dos alunos e, infelizmente, também por parte de alguns docentes. Durante anos, aquela que é vista por muitos como uma das mais importantes atividades no mundo (sem qualquer demérito a todas as outras profissões) foi se deteriorando. Não se faz necessário falar dos baixos salários, assim como não é necessário falar da má formação dos profissionais, tampouco dos casos de violência contra os professores ocorridos nas imediações das escolas e até dentro das salas de aula. Também não é preciso falar das péssimas condições de trabalho oferecidas pelo estado, prefeituras e até por algumas instituições particulares que em contrapartida cobram mensalidades absurdas.

Já escrevi isso antes: Vivemos em um país cuja preocupação tem sido somente o desenvolvimento econômico e político e não o crescimento social e pessoal de seu povo. Talvez esse seja só um dos motivos pelo qual o educador (aos olhos do contratante) mereça um salário dez vezes menor que o do administrador de finanças, por exemplo. Mas isso também não seria necessário comentar. Fato é que nem o próprio aluno tem o mesmo respeito de outrora pelos mestres. A minha geração talvez tenha sido uma das últimas a ver o professor com um olhar diferenciado, quase superior (no melhor dos sentidos). Quando encontro um antigo professor na rua nem me lembro de chamá-lo pelo nome. Chamarei sempre: Professor! Alguns com especial afinidade ou admiração nunca serão apagados da memória. E por falar nisso: Tia Regina (pré-escola), Dona Marlene (3º série), Valdim (5º série), Márcia Feldman (1º ano eletrônica) e mais recente nas Letras; Diógenes, Mestre Plínio e Jucimara Tarricone - Parabéns pelo seu dia. Eu me espelho em vocês, porque como disse Paulo Freire: “A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Mudar é difícil mas é possível”.

Marcelo Nocelli
Enviado por Marcelo Nocelli em 15/10/2011
Código do texto: T3279070
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