J.G. DE ARAUJO JORGE
Retrato: Jaime Pina da silveira

Ouça o áudio do poema Orgulho e Renúncia, clicando AQUI
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Por JB Xavier

Não te condeno nem te recrimino
ninguém tem culpa do que aconteceu...
Não posso contrariar o meu destino
nem tu podias contrariar o teu!

    Eu preferia não ter escrito esta homenagem. JG não a merece! Pelo que ele representou nas letras brasileiras, pela popularização da Poesia na grande mídia, pelo sucesso de seus livros, e pela colaboração inestimável à fundação da UBT, ele merecia uma homenagem feita por um pena mais talentosa que a minha. Minha pena está eivada de emoção, acumulada durante uma vida inteira de admiração a versos como estes acima, que falam ao meu coração desde meus tenros anos de menino, e praticamente representam o portal pelo qual adentrei ao mundo mágico da poesia.

    Que perdoem portanto os que agora me lêem, porque homenagear José Guilherme de Araújo Jorge num veículo lido por amantes da poesia é muito mais que simples homenagem, é a oportunidade de dizer a ele, ainda que tardiamente, que ele representa um dos pilares sobre os quais edifiquei meu envolvimento com as letras.

    JG transpirava poesia, e embora não fosse um boêmio como Vinícius de Morais, foi, como este, um político. Vinícius cantava Ipanema, diante de um copo de whisky, JG cantava a singeleza do amor diante da tribuna, em versos plenos de lirismo, compreensíveis a todos. Em 1932, com apenas 18 anos, no Externato Colégio Pedro II, foi escolhido o " Príncipe dos Poetas", num certame disputadíssimo, sendo saudado na festa por Coelho Neto, "Príncipe dos prosadores brasileiros" e recebendo das mãos da poetisa Ana Amélia, Presidente da Casa do Estudante, como prêmio e homenagem, um livro ofertado por Adalberto Oliveira, então " Príncipe da Poesia Brasileira".

    Um dia me perguntei o que teria acontecido à Música, se Wagner tivesse sido contemporâneo de Beethoven. Por pouco não o foram! E ao perguntar isso, disse para mim mesmo: Que bom Deus ter permitido nascerem na mesma época dois homens  do quilate de J.G de Araújo Jorge e Luiz Otávio. E mais! Ter permitido que sonhassem o mesmo sonho, que se encontrassem pelas alamedas do destino e que dividissem esse mesmo sonhar!

    O resultado - a união de forças que acabou por elevar a quadra popular portuguesa ao status de literatura. O apoio de JG - um poeta à época já consagrado -  ao movimento trovadoresco iniciado por Luiz Otávio, imprimiu-lhe vigor e credibilidade, além de auxiliar na sua expansão.

    E, se Deus os uniu no sonho, uniu-os também no vigor, pois ambos lutaram aguerridamente para colocarem seus planos de pé!

    Pensem no que significa nascer hoje na distante Tauacá, no Acre, e, apesar da distância dos grandes centros, ser um vitorioso. E pensem no que significava isso em 1914, ano de seu nascimento!  

    Pela sua mensagem social e política e por sua obra lírica, impregnada de romantismo moderno, mas às vezes, dramático, JG
foi um dos poetas mais lidos, e talvez por isto mesmo, o mais combatido do Brasil.

Pérolas de JG de Araujo Jorge

Rico eu sou, mesmo sem ouro
E da riqueza, dou provas,
- eis aqui o meu tesouro:
Minha sacola de trovas.

Tudo é trova: a flor, a onda,
A nuvem que passa ao léu
E a lua, trova redonda
Que a noite canta no céu!

A todos prende e cativa,
E não se rende a qualquer...
- É pequena, mas esquiva...
... Não fosse a trova, mulher...

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UBT
Enviado por UBT em 23/11/2011
Reeditado em 23/11/2011
Código do texto: T3351458
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